segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
CÂNTICO INVERSO
© De João Batista do Lago
Macacos me mordam!
Vê-se animais sagrando o não-Sagrado
Vê-se animais!
Desconfiados dão-se bênçãos
E sentam-se nos colos de assassinos e ladrões
E contentam-se com a miséria que se lhes nasce
E geram a desgraça do abraço
No afeto do beijo de fel: todo feto
Que se lhes apimenta a língua ferina
Que será comida como troféu
Vê-se animais!
Sim, vê-se animais
Nos arraiais do céu!
sábado, 29 de dezembro de 2007
HABITAT
© De João Batista do Lago
Habito-me de versos
Na casa dos meus fragmentos
Todos os meus lamentos
São quartos do meu prédio
Onde resido como ancião
Contestante.
Como minha juventude
– Salada de novas vidas! –
Ocra vermelha salgada
Debulhada na madeira do ser
Que me endurece a alma
Sustentáculo do vir-a-ser.
Habito-me, pois, com pavor
Rasgando os meus fragmentos
Presos pelos discernimentos
Torturados pelos intestinos
Vadios que me ejetam da nave:
Excremento de puro ser.
Assim habito-me: não-Ser
Disfuncional na funcionalidade
Substancial da presença
Marcada pela ausência do ser.
Habito-me, pois, assim:
Escala da vida dantes já morta!
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
DIÁLOGO DO TEMPO E DO ESPAÇO
© De João Batista do Lago
Eu que não mais estou aqui
Aqui estou para agradecer
As mesuras das tuas palavras
Que nem foram escritas para ti
Mas para um tempo que já não há
Que muito distante está
- seja de mim; seja de ti.
Obrigado a você que me lê agora.
Confesso: gostaria de saber por quê comigo choras!
Estes lamentos descritos noutros tempos;
De aventuras e desventuras sem laços,
Duma alma que passou pela vida sem espaço,
Que nunca sentiu o frescor do próprio ungüento…
Por que merece, agora, roubar esse teu tempo?
Naquele tempo, ó meu caro viajor,
O mundo era um labirinto de dor.
Talvez por isso estranhes o langor da poesia
Reflexo do horror que havia em toda periferia
Macabra terra e residência da miserável guerra
Que nunca se dera a oferecer como anjo da paz
Que sempre se fizera de toda vida só quimera.
Sinto muito, meu caro. E como o sinto
Não poder dar-te outra imagem senão esta.
Bem gostaria de te falar de gloriosas festas…
Bem gostaria! Mas se assim fizesse
Não me restaria outro apelido: farsante!
Tomaste toda poesia para cantar o onirismo presente,
Porém esquecestes do real Ser, ser o principal ausente.
Quando vês que reclamo em mim a criança
Podes crer, estava sufocando sem o ar da esperança
Quando assistes ao meu lamento em pranto
Crê, era a presença do meu eterno (então) desencanto
Já tanto e quanto cansado do grito (sempre) sufocado
Pela cicuta-da-europa ou mesmo pela cicuta-do-norte,
Que me oprimia tanto e quanto até me levar à morte.
Se nessas páginas me vês (por vez) ensandecido
Era o grito mais profundo do ser em mim esquecido,
Era o choro sem lágrimas pelo canto varrido
Das almas penadas. Se me vês assim… Assim eu fora!
Uma voz ao vento feito relincho de jumento em cio
Louco para gerar no ventre do barro e da água
Toda lavoura que se pudera agasalhar a fome e o frio.
Sim, meu caro, sempre me fora assim: princípio, meio e fim.
Mas se princípio fora; meio não me fizera, não me contivera;
Do fim apenas me restara o sabor de nada entender…
E aí sepultado dentro do meu próprio ser
Embalsamado e esquecido na câmara sarcófica do não-Ser,
Trancado pela chave do sagrado na palavra mortal
Aprendera que todo sofrimento resulta do pensar animal.
É possível, sim; ser tudo mentira tudo o que falara.
É possível nem mesmo acreditar no mal que tanto e quanto causou.
Sim, tudo é possível, bem sei! Quem sabe fora apenas mentira!
Só não é possível esquecer que a vida de si esqueceu,
Que a tantos e quantos deu e a tantos e quantos roubou:
Uma rosa murchou; uma flor não floresceu. A vida morrera?
Mas nem mesmo isso regara o coração dos indulgentes.
Lê-me, então, ó viandante de todos os tempos;
Lê-me com os passos do pensamento de um romeiro contrito.
Mas, se porventura vês no meu escrito só dor e lamento
Rogo-te: tomas essa estética do sonho de um poeta maldito
Como a hóstia sagrada da realidade da vida, pois
Mesmo que ela te cause dor ou qualquer ferida
Há-de ser pela eternidade, não teu delito, mas o teu veredicto.
O SER DOS MEUS OLHOS
O SER DOS MEUS OLHOS
© De João Batista do Lago
Meus olhos seguem o ser que se esvai
No esfumacento entardecer
Onde irá o meu ser?
Que visões irão atravessar?
Onde irão os meus olhos?
Meu ser?
Quem sabe!
Eu não sei.
Amanhã, meus olhos já não mais seguirão ninguém
No escurecer da entardecer!
Onde estará meu ser?
Onde estarão meus olhos?
Quem sabe!
Quem soubera?
Quem saberá?
- Eu não sei.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
OBLATAS
© De João Batista do Lago
Que adianta o lirismo,
Que adianta estética,
Que adianta o belo
Residente na poética?
Sim!
Que adianta tudo isso
Se a vida não é assim?
Foges pela tangente do real
Escapas pelos esgotos da beleza
Cegas-te para não enxergar a dureza
Cruel gerada na alma animal
Do homem que da vida é só vileza!
Oh, meu caro João, não me tome por mal;
Bem sei da beleza que na vida há. Bem sei!
E um dia hei-de a cantar nalgum verso toda essa beleza,
Mas agora é prudente falar da maldade que há
Instalada – em qualquer lugar – na beleza
Perdida no barro da criação.
- Não tenho dúvida, João, sou filho da indignação.
Que adianta cantar a esperança, se matam em mim a criança?
Que adianta cantar a paz, se me constroem soldado das guerras?
Que adianta cantar a vida, se dela não me há qualquer guarida?
Não. Não tenho por que sorrir…
Nem mesmo lágrimas me restaram para chorar.
Todo sorriso; toda lágrima
Restaram consumados na insensatez da próprio Ser.
Quero sim, à vida cantar!
Dizer dela toda beleza no plural e no singular:
A rosa, são rosas
A flor, são flores
O amor, são amores
Na dor, não há-de haver dores
Na fome, há-de haver todo alimento
No Ser, toda solidariedade
Da ação, nenhuma maldade
Quero, pois, assim,
Toda vida cantarolar.
domingo, 23 de dezembro de 2007
OBLATAS
© De João Batista do Lago
Sinto deste Natal apenas o gosto amargo do fel
Não vejo nenhuma escritura que fale dessa obsessão
Não há literatura que relate tamanha vergonha
Dessa criatura louvada pela torpeza dos homens
Que buscam uma vez mais a desrazão da riqueza
Na perene sutileza de louvar o Filho do Deus
Possivelmente não terei nenhuma razão
Para contrariar os senhores donos do mundo
Que fazem festa para obrar toda dominação
Que do engodo do mercado fazem uma só oração
Razão suprema dum povo deserdado
Fiéis professos da procissão dos adestrados
Sou de todos assim louco defenestrado
Mago não guiado pela estrela do consumo
Indigno de viver num mundo administrado
Lixo na festa do menino-deus-mercado
Que a todos vê como oradores encantados
Fiéis oblatos da religião dos engalanados
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
REGRESSIÓN
© by João Batista do Lago
Vuelvo todos los pensamientos
A los niños desesperanzados
Desabrigados y desamparados
Solos y desnudos de los todos
Descubiertos de la seguridad
Cerrados en sus vidas
Tragados por el camino
desgraciado de la vergüenza
indulgente del capitalismo carrasco
Vuelvo todos los ojos
A todo los niños invisibles
Ocultados y subyacentes de la incapacidad
De todo los seres garantizados
por las monedas usurpadas
por todo los encantadores
por todo los brujos tiranos
cargadores de ganancias
asesinos del futuro y de la existencia
¡Más tardíamente lo pensamiento
revuelto podrá instalarse!
Entonces los soldados de toda la miserabilidad
Los niños sacados de toda la vida
Surgirán de todas las villas engañadas
Y marcharán sobre las ciudades
Sobre todas las metrópolis
Sobre todas las capitales
Sobre todas las naciones
Sobre todos los pueblos
(Y como enjambre de abejas inquietadas
cobrarán al mismo tiempo todo... todo...
la muerte de los tiranos
- e de los inocentes, sin duda)
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
O BODE DO LAGO - Um conto de Natal
© De João Batista do Lago
Nunca imaginei viver uma experiência como a que estou vivendo neste natal. Pela primeira vez resolvi sair do meu ambiente natural. Sempre vivi próximo ao lago; onde sempre me senti seguro; onde nunca fui ameaçado; onde até mesmo as maiores feras possíveis e pensáveis me respeitam. Mas esta experiência tem-me sido de fato muito engraçada. Curiosa mesmo!
Estou na cidade. Cidade de bichos homens e de mulheres! Cidade dos bichos humanos! E somente agora percebo claramente que não sou bicho: sou bode! É estranho este sentimento que sinto agora! Muito estranho mesmo! Queria expressá-lo, mas tenho dúvidas em fazê-lo… Como explicar esses bichos amontoados nesta selva de concreto? Como entender suas ações? Como classificar suas formas de vida? Como justificar seus comportamentos?
Bem, é melhor prestar atenção e pensar mais um pouco…
Pelo que entendi até aqui são muito estranhos esses bichos humanos! Criaram um Ser além deles próprios para adorar. Daí não ficaram satisfeitos e inventaram um filho desse tal que vive nas nuvens, mas logo se zangaram com ele e o crucificaram. Daí criaram um bicho inumano a quem deram o nome de Espírito. Este, de certa maneira substitui o que por eles foi assassinado. Que coisa estranha esses humanos!
Outra coisa que me custa entender é essa mania que esses bichos têm pelos grandes templos. São casas riquíssimas! E eles ainda vão para esses lugares e deixam o seu pão de cada dia num ofertório ao sagrado. Mas que sagrado é esse que esses bichos tanto adoram? (…)
Resolvi então visitar um desses templos. Qual não foi o meu espanto!
Vi bichos ajoelhados diante de estátuas de barro. Uns choravam. Outros rezavam. Aquele pedia perdão pelo mau que praticou durante o ano. Este fazia promessa: “serei um bom homem”. Aquela outra prometia ajudar os pobres. Isto me chamou atenção: que é isso, pobre? Auscultei com mais vagar e calma o que ela dizia. Daí entendi que pobre era um seu semelhante. Engraçado!
Esses bichos se dividem em classes. Tem o miserável, o pobre, o menos pobre menos rico, o rico e o milionário. Que loucura!
Mas hoje, que eles chamam de Natal, que comemoram o nascimento… daquele tal que eles mataram, a quem chamam de Menino Jesus, eles se juntam para uma tal de confraternização. E aí ocorre o mais engraçado: brindam e bebemoram a paz que no dia seguinte vira guerra; juram amor eterno pela mulher e pelo marido, mas no íntimo dizem-se: “que lixo!”; distribuem cinquenta dinheiros, mas amanhã roubam cem; abraçam o negro e a negra – “tens alma branca”, dizem –, mas no dia seguinte mandam entrar pelo fundo da igreja; amam as crianças, mas no novo dia lhas roubam toda esperança; juntam-se numa só ceia; mas amanhã negam o pão que alimenta a multidão…
Esses bichos são mesmo engraçados!
Saio dali da igreja e vou para as ruas. Nestas, os bichos humanos estão de sorrisos largos, o que, de certa forma, me fez lembrar dos lobos e das hienas. Lobos e hienas também sorriem uns para os outros. Lobos e hienas também andam em matilhas. Lobos e hienas são traiçoeiros… Enfim, como se parecem esses bichos humanos, os lobos e as hienas!
Mas continuo em minha peregrinação tentando entender esses bichos humanos. Logo encontro um casebre, mas ao lado há um palácio. Acho estranha essa harmonia! Então resolvo entrar nesses ambientes. No casebre há “fartura” de tudo; no palácio há fartura de tudo. No casebre há uma família miserável; no palácio há uma família milionária. No casebre nenhum pedaço de pão; no palácio há tanto… tanto… tanto… que empanturra até cão. No casebre há um pai desempregado; no palácio há o senhor do mercado. No casebre um filho e todos os degredos; no palácio nenhum filho, mas todos os brinquedos. No casebre a mulher é só pelanca; no palácio a mulher é só botox. No casebre o afeto é um abraço; no palácio o afeto é um carro. No casebre o vinho é água pura; no palácio é champanhe cara. Que loucura! (…)
Estou de novo nas ruas. As matilhas de transeuntes passam por mim. Não me notam. Claro, eu sou bode. Se me notarem serei crucificado, como o tal Jesus, ou simplesmente sacrificado para ser ofertado na ceia dos senhores e (também) dos miseráveis. Serei comprado ou vendido por trinta dinheiros: valor da traição que reside em cada coração depois do beijo…
É melhor mesmo que não me vejam. Se me virem são capazes de se vestirem como cordeiros; daí estarei em perigo. Serei morto e oferecido na ceia dos discípulos de Babel. Não! Não quero ficar nesta selva. Aqui não a relva onde eu possa deitar minha liberdade; nem água pura onde eu possa me embriagar de amor… Meu lugar é à beira do lago. Lá sou bode, não sou animal.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
INFERNO
© De João Batista do Lago
Quem me dera morto havê-lo nascido
A rosa que de mim tão bela não teria murchado
A vida não me houvera como sacrifício
E eu nas alamedas cortando a selva de pedra com o machado
Quem me dera morto não teria crescido
Feito lobo faminto dessa selva de ensandecidos
Não mostraria os dentes para saldar os já vencidos
Desta guerra sem fim dos que em si nunca foram nascidos
Quem me dera morto a rosa sobreviveria
Porque vivo as pétalas choram em mim o eterno
Sabem do tormento que é viver nesse inferno
O morto que mesmo vivo é preso de sua cadaveria
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ALEGORIA
ALEGORIA © De João Batista do Lago
Quando em vez o irmão da morte
Abraça-me com carinho;
Me faz carícias,
Promete a experiência de novas visões;
Diz que viverei o encanto d’outras belas jornadas,
Que não me arrependerei ao trilhar essas estradas.
Quando em vez sou tentado ao convite:
Viver a magia dos sonhos;
Perder-me nos encantos das bacantes
De deusas oníricas do não-Ser;
Desfalecer feito adolescente
No rubro colo dessa realidade ausente.
Quando em vez aceito a taça do cansaço!
Então, embriagado, o irmão da morte
Me serve o último trago:
sonhos que logo desfaço
Ao ouvir a voz da Sabedoria,
Que logo me alerta contra tais alegorias:
- Junta-te a Dionísio, pois terás muito tempo para dormir.
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Crédito da Ilustração: http://www.rainhadapaz.com.br/projetos/artes/imagens/im_quatrofases/S_alegoria.jpg
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sábado, 15 de dezembro de 2007
ESSAS NOITES...
© De João Batista do Lago
Sinto que minhas noites já se transformaram em dias!
Dias negros como os dias dos mortais,
dias infecundos, restos dos dias dos sinais
que vêm da mais profunda eternidade;
dias onde se plantam e condensam as maldades
plantadas nos corações dos homens.
Não! Afastem-se de mim essas noites-dias!
Não as quero por mais belas que se me apareçam
essas noites. Que se percam nos seus dias claros.
Quero-as como dantes
- não como os delírios de Dante –, mas
dionisíacas, donde nas minhas bacantes
Themis reinava em toda sua supremacia
e depois me deitava em sua cama macia,
onde me acariciava e me amava.
E de onde eu acordava qual Vesúvio:
explodindo vida por todos os poros
depois de amá-la como um gigante.
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sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
O SER DOS MEUS OLHOS
© De João Batista do Lago
Meus olhos seguem o ser que se esvai
No esfumacento entardecer
Onde irá o meu ser?
Que visões irão atravessar?
Onde irão os meus olhos? Meu ser?
Quem sabe!
Eu não sei.
Amanhã, meus olhos já não mais seguirão ninguém
No escurecer da entardecer
Onde estará meu ser? Onde estarão meus olhos?
Quem sabe!
Eu não sei.
ABSTRATO HUMANO
De João Batista do Lago
Ausente desta minha presença
Essente!
Vulgo capítulo de um existir carente
Na suprema corte dos deuses indolentes
Vago a vida feito uns vagabundos
No imundo palácio do mundo
(sem sais!)
Onde a palavra não fala…
O canto não canta…
A rima não versa…
E cessa a conversa do sagrado
Na linguagem da filosofia
Pobre porfia da busca real
No imaterial metafísico
Do imanente racional:
Abstrato humano: animal!
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
ANDRÓGENO
© De João Batista do Lago
De toda minha prenhez
Somos criador e criatura
Não-sendo nem criador
Não-sendo nem criatura
Sou cultura arquetípica
Da não-cultura do humano
De toda não-literatura
Toda literatura de imagens
Que se revelam na matéria
Do não-humano do humano
E findam na essência criatura
Sou assim: divinal iteridade do ser
Alma-corpo-espírito da ossatura
Eterno mendigo do meu viver
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
O PASSO
© by João Batista do Lago
Restam-me (ainda) sons e
vozes dos passos,
descompasso da insensível
mordaça dos cascos,
desalinho que a cada passo
lança no espaço, no
coração da consciência,
toda arrogância do poder.
Não estou de todo livre dos
passos. Descompassos!
Como rastros (ainda) se alastram!
Sons de cascos reverberam
noutros espaços; noutros lugares…
passos que passam no passo de cascos;
galope que fere com aço a liberdade, fere de
morte a justiça, o direito – toda dignidade.
Não calem as consciências,
nem as canções;
não calem os cantores,
nem os poetas;
não calem as telas,
nem os pintores.
Se calados ficarem
morrerão as flores!
Calem os sons dos passos,
párem a tropeada dos cascos,
estanquem o galope dos aços…
A paz não pode ter espaço para o
cangaço da intolerância,
nem a guerra pode viver como
metáfora da esperança. Dai, pois, o passo.
Sim, mas o passo de uma criança.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
ROSA NEGRA
© by João Batista do Lago
Da senzala
- a grande casa! –
exala o cheiro de almas
que agora deambulam
pela casa vazia
que grita os berros
que ficaram presos
nas gargantas ornadas
com colares do ferros.
Da senzala
- a grande casa! –
vem-me os gritos das
dores contidas
das costas entrecortadas
pelo gargalhasso da chibata
que estala no dorso encantado
da negra mucama acorrentada
ao dedo-de-deu que aponta para o céu
Da senzala
- a grande casa! –
poder cretino do senhor dengoso
ouve-se, então, o choro do menino
filho do estupro matutino… ou vespertino
daquela escrava que outrora apanhava
ao pelourinho para gozo do senhorinho
que jamais irá saber do filho negrinho
condenado a viver – toda vida! – sem carinho
Da senzala
- a grande casa! –
ouço os acordes duma canção em lamento:
- Não deixem que apaguem das memórias
as histórias de horror
e de sofrimento,
as dores,
os choros,
os tormentos.
Não esqueçam os estupros.
Não! Não permitam que as flores
apesar da beleza e do aroma
escondam o pólen da dignidade,
da justiça e da virtude.
Não! Não permitam que as rosas
apesar do encanto
e da diversidade das cores,
mascarem a beleza da rosa negra.
domingo, 9 de dezembro de 2007
ALMAGORIA
© by João Batista do Lago
(Verso)
Queria guardar minh’alma
Como se fosse um escriturário
Mas minh’alma tomei-a por posse
Assim transformei-me em mercenário
Minh’alma resolveu ser mais capaz que eu
Daí aos poucos, fui plantado num orquidário
A terra-mãe resolveu que me guardaria do mal
Juntou-me aos pedaços e pô-los no seu berçário
Pensei estar de todo seguro do mundo sem-razão
Quanta tolice deste pobre vivente tolo incompetente
Aos poucos fui vendo lentamente: da vida era anedotário
(Reverso)
Aos poucos fui vendo lentamente: da vida era anedotário
Quanta tolice deste pobre vivente tolo incompetente
Pensei estar de todo seguro do mundo sem-razão
Juntou-me aos pedaços e pô-los no seu berçário
A terra-mãe resolveu que me guardaria do mal
Daí aos poucos, fui plantado num orquidário
Minh’alma resolveu ser mais capaz que eu
E assim me transformei em mercenário
Mas minh’alma tomei-a por posse
Como se fosse um escriturário
Queria guardar minh’alma
sábado, 8 de dezembro de 2007
SIMILARIDADE
© by João Batista do Lago
Soweto
No Brasil
Rima com gueto
Aqui é pardo
Lá é preto
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
RESGATE
© by João Batista do Lago
Carregas contigo a
Vileza do teu breve sorriso
Acomodado à face:
Retrato do disfarce da
Vergonha encalacrada.
Carregamos nós a
Vergonha insidiosa da
Tua representação:
Ferradura dum ladrão que
Rouba do povo o miserável pão.
Maldita sina!
Desde o Império
Essa corja assassina
Rouba e dilapida a nação:
Campo minado pela corrupção.
Até quando havemos de suportar
Esse sorriso de miserável torpor,
Essa sangria da nação em dor?
Até quando?
Até quando?
(Para resgatar a Virtude
Basta apenas a necessidade…
Lutar sem perder a dignidade!
Essa é toda Verdade.
De que adianta todas essa solidariedade,
Se nela não corre o sangue da sanidade?
De que adianta a vã e mesquinha atitude,
Se nela não ocorre o ente revolucionário da Virtude?)
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
PINGOS DE CHUVA
© by João Batista do Lago
O dia amanheceu como as almas tristes!
Cinzento!
Chorando suas mágoas,
Suas dores,
Seus horrores.
Mendigo de amores perdidos nos
Passados dias de sorrisos.
Quanta falta faz ao dia o abraço do sol!
Chora. Chora de mansinho.
Devagarinho vai desfilando sua sorte, pois,
Refém da sua própria morte
Sabe-se, logo ali, ser aluvião na
Vazão das almas que inundam de podridão o
Lixo já sem perdão do humano verme, que
Encalha os esgotos da
Alma já podre de palavras e canções, que
Infectam os corações das miseráveis sensações dos
Dias infelizes gerados nos humanos corações.
O dia cinzento de
Choro cinzento
Revela o espírito do
Ser sem dia…
Amargo…
Sem alegria.
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
SIGNIFICANTE VAZIO
© by João Batista do Lago
Vês, este meu excrito,
não te parece escrito;
na imagem de tua mente
é palavra doente, é
texto proscrito que
nasce de um indolente.
Assim é meu escrito:
significante vazio excrito,
anáfora de si, proscrito do
sujeito que não te faz sentido,
linguagem sem fala no
moderno mundo já perdido.
PENEIRA
© by João Batista do Lago
o corpo
não côa-o
dissipa-o.
desamor
antecipa
a sua dor.
o corpo
filtra-o:
alma só.
o corpo:
sepulcro
da sua dor!
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
ALUCINAÇÃO
© by João Batista do Lago
visagens do dia!
o sol a pique
como um dique:
fome denuncia.
(a cachaça só
aliment’a dor).
Essa, toda filosofia
que o mercado prenuncia:
- fins racionais –
estética do trabalhador.
__________
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
LIBERTAÇÃO
© by João Batista do Lago
Essa ambígua ordeiricidade brasileira, e
conseqüentemente, do seu povo:
país do carnaval! da mulata brasileira!
país do futebol! da malandragem fagueira!
é ufanismo trigueiro da burguesa “Luzes”
subjetivismo do discurso da dominação.
Sob este manto praticam-se o
terrorismo social e o econômico, o
político e o cultural, abstrusos, mas
coesos no seu conjunto ideológico
incrustado no terrorismo de Estado, que não
permite aos comuns cidadãos
perceberem, desde sempre, a condenação de
suas almas numa constante subjugação.
A tudo isso se junte, ainda, a
medíocre “democracia racial”:
falsa consciência da inclusão
sob o beneplácito das elites, da
classe média e da burguesia.
E os ladrões de sempre,
que roubaram, que roubam e, por certo,
roubarão este povo que teima em não acordar, que
continua “dormindo em berço esplêndido”,
continuam nos palácios a nos encantar
com a máxima da escravidão:
“O Brasil é uma nação ordeira” - dizem.
E assim continuamos nossa sina
- com o apoio do burguês trabalhador que
vendeu sua dignidade, que
teve seu espírito comprado, que se
esconde sob a proteção de sindicatos
fascistas e sustentados pelo Estado terrorista que
assalta, que furta o trabalhador comum
compulsoriamente dilapidando o miserável salário,
que se lhe arranca da boca a comida, do
intelecto a educação, do
corpo a moradia.
Não menos indulgente é a
burguesia intelectual
que num eterno louva-deus
locupleta-se com migalhas furtadas
comprantes das ideologias de
plantão que permite assegurar o
quinhão da dominação.
Da mesma maneira o ramo
podre da religião assim também age
utilizando o campo do sagrado
como fonte inexorável de opressão
fazendo cair sobre os desgraçados da sorte o
fogo do inferno se porventura desejarem libertação.
No mesmo ritual teleológico
segue o burocrata, o empresário e o político,
os três Poderes: o Judiciário, o Executivo, o Legislativo
– a “representação do povo”!
Não é, pois, o momento da indignação?
Porventura não é chegada a hora da libertação?
A nação não pode condescender com seus
detratores, com seus ladrões, com seus
usurpadores, com seus facínoras, com seus
ditadores - falsos democratas, antiprofetas da salvação.
Prestai atenção, ó brasileiros!
Ó povo dos trabalhadores,
povo deserdado, vexado e proscrito!
Povo (que é) aprisionado, (que é) julgado e (que é) morto!
Povo ultrajado, povo marcado!
Não sabeis que mesmo para a paciência,
mesmo para a dedicação, há um limite?
Não deixarás de dar ouvidos a estes
oradores do misticismo que te dizem
para rezar e esperar,
pregando a salvação pela religião ou pelo poder e cuja
palavra veemente e sonora te cativa?
Teu destino é um enigma que nem a força física,
nem a coragem da alma, nem as iluminações e o entusiasmo,
nem a exaltação de nenhum sentimento pode resolver.
Aqueles que te dizem o contrário enganam-te e seus
discursos servem apenas para retardar a hora de tua libertação, que
está preste a soar.
O que são o entusiasmo e o sentimento?
O que é uma poesia vã diante da necessidade?
Para vencer a necessidade há apenas a Necessidade,
razão última da natureza, pura essência da matéria e do espírito.
Dá-me, agora, ó brasileiros, um pouco da vossa atenção!
Tomai como vosso este poema e cantai em toda praça a todo cidadão.
Sustentai este grito de alerta, de levante, de atitude revolucionária
contra os vituperadores que tomaram esta nação:
(é) uma convocação para a revolta,
(é) uma ode à desobediência civil,
(é) um convite à marcha contra os canalhas,
(é) uma incitação à derrubada do Estado terrorista.
Mas também quero vos alertar:
os ladrões do Brasil e de seu povo, a
camarilha instalada nos três poderes, a
elite, a classe média e os burgueses,
jamais concordarão com este deblaterar.
E dirão com certeza:
- Não passa de um ‘esquerdista radical’,
um ‘maoísta’, um ‘leninista’, um ‘marxista’,
enfim...
‘um comunista’.
Ou, no mínimo, dirão:
um “revoltado”,
um “louco”...
Aí então deverás, desde sempre,
rechaçar e repelir veementemente a
prosa ditirâmbica dessa camarilha de ladrões.
Não dareis, jamais, o direito de te definirem,
de te identificarem, de te marcarem (feito gado encurralado)
segundo seus conceitos, seus preceitos, seus preconceitos.
E direis:
- Tens agora, ó indignos bufões, o
vicejar de um novo Sujeito,
tens, aqui, por certo, o
discurso da indignada nação, que
não quer ver o seu povo,
por toda eternidade,
dirigido pela corrupção, que
não deseja ser representado
por congressos de ladrões,
governado por rufiões do poder, que se
escondem sob a toga da inquisição.
E afirmareis a sentença da libertação:
“Se os apelos dos movimentos urbanos não são atendidos,
se os novos caminhos políticos permanecem fechados,
se os novos movimentos sociais não se desenvolvem totalmente,
então, tais movimentos
- utopias reativas que tentarão iluminar o caminho a que não tinham acesso –
retornarão, mas dessa vez, como sombras urbanas,
ávidas por destruir as muralhas cerradas de sua nação cativa”.
__________
(in EU, PESCADOR DE ILUSÕES, 2006, Ed. Lulu Press)
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
OBREIRO
OBREIRO
© by João Batista do Lago
Desorientado!
Sim, desorientado saíra de casa…
Casebre.
No caminho do trabalho ia mastigando sua febre de 40º,
ruminando desespero do filho sem leite,
da mulher recém parida,
que ficara na casa – casebre! –
já quase sem vida.
E ele, obreiro de muitas obras,
de tantas e quantas obras,
não tinha obra nenhuma para doar à família.
Toda obra que construíra fora para pagar o salário miserável que consumia no dia-a-dia da sua miserável vida.
Ruminava e ruminava.
Ruminava inconsciente a caminho do matadouro
onde entregaria sua mente a preço vil,
sua força de trabalho restaria na produção covil.
No dia seguinte tudo se repetia.
Ainda assim esperançava um dia
ser dono da mais valia que lhe roubava o pão nosso de cada dia.
E pensava:
“Antes de morrer hei de ver meu filho banhar-se de leite,
minha mulher entre sedas, pedras preciosas e ouro…
Hei de ver! Hei de vencer!”
Passava o tempo e todo dia a mesma coisa se repetia:
refém da mais valia, mas esperançava sempre – um dia! –,
o velho trabalhador, ter a alegria de ser livre,
de não ser apenas um sofredor; ser dono da sua força de trabalho,
não ser apenas o curinga do baralho ou apenas peça descartável do mercado.
Hoje, velho e maltrapilho… (maltratado!), arrasta-se entre ladrilhos de esperanças, contudo espera que sua criança – ainda sem leite! – não perca a esperança de um dia ser dono da sua laborança,
que seja refratário ao vil capital do consumo,
que seja libertário e que não se deixe pregar à cruz,
para de lá, como eu, apenas dizer:
“consummatum est!”
domingo, 25 de novembro de 2007
MENINAS
© by João Batista do Lago
Quanta saudade tenho
daqueles tempos de criança
daquelas meninas de trança
brincando na corrente mansa
do rio Itapecuru.
Lembro de toda molecada!
Era um verdadeiro sururu
quando saíamos da escola:
correndo em desabalada
íamos olhar as coxas peladas
das meninas de trança que
banhavam no rio Itapecuru.
Passou o tempo! Passa, enfim, a vida!
Passaram águas; ficaram saudades!
E eu, jaburu sem rio e sem guarida
estou à margem das iniquidades.
As meninas de tranças; coxas peladas,
onde andarão? Será que são amadas?
Que águas lavam aqueles mamilos retesados?
Quanta saudade tenho
daqueles tempos de criança
daquelas meninas de trança
brincando na corrente mansa
do rio Itapecuru.
sábado, 24 de novembro de 2007
HISTÓRIA DE POETA
O velho poeta descia a serra pontiaguda
Tão ligeiro como pedra desembalada.
No pé da serra esperava sua amada.
Mas, ao descer, teve a perna quebrada.
Coitado! Lá no meio da serra esparramado
Ficou o poeta – e sua dor – impossibilitado.
Não mais era possível alcançar a amada.
E ela, sem perceber, não sentiu a dor do amado.
No meio da serra, ao chão então estirado,
O poeta sentiu-se um miserável; desgraçado.
Chorou o abraço não dado na jovem amada.
E ela, sem perceber, não viu que havia-o passado.
Depois de alguns instantes de infinda espera
Resolve a jovem amada subir a serra.
E ao ver o poeta inanimado – como pedra –
Cai sobre seu corpo em pranto. Desespera.
Acaba assim a história do velho poeta:
Jaz na terra versos que se plantariam em sua amada!
Acaba assim a história da jovem amada:
Jaz por terra versos não plantados na Poesia amada!
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
NUVENS
© by João Batista do Lago
Do universo do meu quarto
Vejo o infinito universo!
Lá ao longe as nuvens dançam
Num ballet magistral da natureza,
Capaz de criar em minha mente a
Figura da mulher amada que
Ficara quando me fora adolescente.
Instante de estética fenomenal, mas o
Vento – ciumento e atroz! – baniu a
Amada da minha mente, e para me
Indignar ainda mais, pintou nos
Céus nuvens de monstros, onde
Antes era a imagem genial de Themis,
Agora resta – tão-somente! – a realidade presente.
sábado, 17 de novembro de 2007
SE EU PUDESSE...
(1979) *
© by João Batista do Lago
Deus,
ah se o mundo me
pudesse ouvir
pediria a todas as gentes,
a todas as pessoas,
que gravassem em suas mentes o
Luar do meio-dia,
que fascina e ressoa
Nos lábios do dia
a paz que de mim soa.
Diria a essa gente:
imagine por um instante
um mundo prenhe de paz…
Imagine!
Já seria o suficiente para
aceitar o Sol da meia-noite;
a paz no coração da mente
reluziria incandescente
n’alma de todas as gentes
reféns de guerras indulgentes.
(Se eu pudesses ao mundo falar!)
__________
* Revisada
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
LAMENTO
© by João Batista do Lago
Ó velhos porões de almas!
Ciganos errantes. Ledos.
Aluviões de antigos medos
que singram os mares com
seus degredos de sorte vil,
ilusões paridas d’um só covil.
Ó velhas embarcações de ossos!
Teus degredos… Teus medos
são fraturas expostas dos teus
crimes de lesa alma, que pungem
toda dor da miserável sorte de
ser, apenas, o ser da morte.
Ó velhas cangalhas de carne!
Tua pena é a cena do afastamento
da divinal condição do ser e
neste teu enclausuramento és,
enfim, todo triste lamento, do
humano que pretendera Ser.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
ORFANDADE
© by João Batista do Lago
O odor do enxofre dos ventres
Rasgados por obstetras da alma,
Não consegue perfumar o ser.
Ele perdeu-se na miséria
De ser parido de deuses;
Hoje órfão deseja renascer.
- Não há mais obstetras de almas!
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
CONTRA-CANALHAS!
© by João Batista do Lago
Quanto tempo ainda restará
Para conviver com os canalhas?
Vive-se um tempo de batalha: a
Virtude é pura moeda rara!
Perdeu-se a vergonha da cara;
Falta coragem de usar a navalha.
Ó, República da vagabundalha,
República de miserável sorte,
Rasgaram-te as vestes da Ética (e)
Curvaram-te ante essa estética
Sangram-te, ó mãe, os canalhas!
Arrancar-te o Direito do peito é
Tudo que deseja a vagabundalha:
Nação inerte; prostrada ao leito.
Sangram-te, ó mãe, os canalhas!
Mas haverá dia que todo malfeito
Restará findo… restará morto…
A nação cativa se levantará do jugo
Então aí – o povo –, plebe ignara,
Tomará as rédeas do desatino e
Fará da nação cativa seu destino:
República de Virtude, Ética e Direito.
domingo, 11 de novembro de 2007
DESEJOS
© by João Batista do Lago
Dispensai os vossos choros, eles
Maculam a madeira que me serve de
Leito e que mo levará para a santa terra
Onde me plantará pau-d’arco roxo ou como
Cedro para servir ao bom lenhadeiro da mais
Fértil vida que se instalará no instante do futuro
Dispensai vossos elogios tardios, eles
Ofendem à dignidade do ser que deseja
Adormecer sem as torpes palavras que
Lavram bocas enferrujadas de dentes doentes e
Preparados para comer a carne do escárnio:
Manjar de vermes que se me pensam morto
Dispensai a procissão ao campo santo, ela se
Tornará pedra na liberdade do meu caminho
Deixai-me as veredas livres; deixai-me sem religião
Preciso – se Deus há – encontrá-Lo sozinho
Buscá-Lo agora nesta minha sagrada morte
Vivê-Lo minh’eternidade; sê-Lo minha liberdade
PRIMAVERIS
PRIMAVERIS
(Para Themis)
© by João Batista do Lago
Tuas coxas de primavera
Primaveris!
Secretos segredos guardam
Da flor do sexo
Sequioso de
Embeber-te da
Mais pura e límpida água que
Brota como sumos da terra (da)
Mais pura terra que de mim há
Carregas em ti o
Centro da vida da primavera
Primaveris!
Almas que se segredam em
Secretos exalares da
Flor mais pura de cheiro mais túmido
Essência que se me preparas na
Alcova do teu corpo
Sacrário exótico da (minha) eterna paixão
sábado, 10 de novembro de 2007
POUIÇÃO
POLUIÇÃO
© by João Batista do Lago
As ventas de Deus
de tanto entupidas
já não respiram vidas!
E de tanta fumaça
já não mais há graça
no paraíso, que
perdeu o sorriso das
flores e das rosas;
e que aos poucos
cauteriza o
ventre da terra…
[…]
Estão entupidas
as ventas de Deus
pelo vírus do
consumo humano
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
INSIGHT
© by João Batista do Lago
Trabalhe o homem sua loucura
Entregue à sua bravura do
Enternecer-se na violência candura
De miseráveis vidas.
Distantes da vida,
Sufocados pelo silencio do
Nada ser diante de si;
Encontro de eus sem o ser.
Ser que é nada,
Quando divaga sua loucura
Na ternura do seu ser!
Ser que de mim o é
Apenas violência candura da
Eterna magia de toda loucura!
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
FOTOGRAFIA
© by João Batista do Lago
Neste ensaio imagético
vejo-te inclusa
neste meu solitário cósmico
deste meu campo excluso.
No meu laboratório de visões
busco toda tua presença.
Nela não me há...
Há um branco total.
Nenhuma imagem.
O filme está queimado.
A burguesa igualdade não me deixa amar-te em toda a tua ebanidade.
E mesmo na cidade dos meus sonhos, na loucura das minhas noites,
és escondida em prostíbulos onde o amor se dá como propriedade
num modo de produção modernista incapaz de se permitir os
fulgores amantes da multiculturalidade.
As mentes diafragmáticas estão fechadas...
O flash não mais dispara feito clarão relâmpico, para
iluminar todo o breu da minha escuridão notúrnica, que
precisa urgentemente
dessa tua imagem resplandecente para
reacender o fogo e dissipar a diáspora para o
Tártaro mais profundo da existência de Gaia.
(Amanhã será outro dia e nele a certeza da tua foto hei de imprimir!)
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
O CORO (OU...
© by João Batista do Lago
Nas terras de Lisárbukus
A Humanidade se repete
Na ignomínia dos desejos
E as almas sem qualquer pejo
A toda miséria se submete
Oh! Triste Humanidade
Carece por toda eternidade
Da Virtude e da Justiça
E assim condenada vive
No gerar-se e no morrer-se
Oh! Filhos de Lisárbukus
Teu destino não é diferente
Das almas de antigamente
Repetes a miséria do mundo
Nesse teu espírito de dor ingente
Teu caminhar, filhos de Lisárbukus
Erra em campos ermos e plangentes
Choras todas as dores da não-essência
Da tocha de fogo em constante ausência
Que te condena à eternidade de indigentes
Os filhos de Lisárbukus são órficos!
Deuses e deusas de toda eternidade
Condenaram os filhos de Lisárbukus
À miséria sem pena nem piedade
Errantes são? São águias… São urubus
Oh! Filhos tartáricos de Lisárbukus
Teus destinos não são desatinos dos deuses
A desgraça... a dor... a peste... e a morte
São as conjurações da vida gerida
São tributos da tua própria sorte
Enfim... é este o teu único destino
Homens e mulheres de Lisárbukus
Parir a sorte para evitar a morte
Derrotar os encantos dos desatinos
Para alçar voo à Virtude dos deuses
(Esta poesia é o Canto Introdutório do drama, em três atos, LISÁRBUKUS, que escrevi; mas que estou no momento fazendo uma revisão, para, posteriormente, publicá-lo. Todo o drama ocorre num país imaginário onde a disputa pelo Poder é a trama central).