sábado, 16 de fevereiro de 2008

VELÓRIO

Velório

© De João Batista do Lago

No meio da sala velo minh’alma

Que me olha com dentes escancarados

Abrigada nos quatro cantos do mundo

Donde sorri das minhas dores

E qual punhal que sangra ventos

Rasga o meu profundo nada

Donde as vísceras jorram todo escarro

Da hóstia nunca sagrada do homem puro

“És nada!” – grita a alma pois então morta –

Nasceste do miserável sagrado sem Deus.

Como há-de me querer velar como eterno

Se tens apenas teu féretro como única posse?”

E lá do meio da sala onde velo minh’alma

Nada posso fazer para alcançá-la…

E ela se esgarça zombeteira em cada gargalhada

Enquanto eu no meio da sala tramo matá-la

E assim me dano feito cão vagabundo

Que nem mesmo a lepra de Lázaro tem para a lamber

Já que sou única testemunha deste infeliz velório

Da minh’alma que se me sorrir à-toa

[…]

No meio da sala velo minh’alma que aos poucos se afasta…

E de mim voa.