Velório
© De João Batista do Lago
No meio da sala velo minh’alma
Que me olha com dentes escancarados
Abrigada nos quatro cantos do mundo
Donde sorri das minhas dores
E qual punhal que sangra ventos
Rasga o meu profundo nada
Donde as vísceras jorram todo escarro
Da hóstia nunca sagrada do homem puro
“És nada!” – grita a alma pois então morta –
Nasceste do miserável sagrado sem Deus.
Como há-de me querer velar como eterno
Se tens apenas teu féretro como única posse?”
E lá do meio da sala onde velo minh’alma
Nada posso fazer para alcançá-la…
E ela se esgarça zombeteira em cada gargalhada
Enquanto eu no meio da sala tramo matá-la
E assim me dano feito cão vagabundo
Que nem mesmo a lepra de Lázaro tem para a lamber
Já que sou única testemunha deste infeliz velório
Da minh’alma que se me sorrir à-toa
[…]
No meio da sala velo minh’alma que aos poucos se afasta…
E de mim voa.