quinta-feira, 29 de novembro de 2007

LIBERTAÇÃO

LIBERTAÇÃO

© by João Batista do Lago

Essa ambígua ordeiricidade brasileira, e
conseqüentemente, do seu povo:
país do carnaval! da mulata brasileira!
país do futebol! da malandragem fagueira!
é ufanismo trigueiro da burguesa “Luzes”
subjetivismo do discurso da dominação.

Sob este manto praticam-se o
terrorismo social e o econômico, o
político e o cultural, abstrusos, mas
coesos no seu conjunto ideológico
incrustado no terrorismo de Estado, que não
permite aos comuns cidadãos
perceberem, desde sempre, a condenação de
suas almas numa constante subjugação.

A tudo isso se junte, ainda, a
medíocre “democracia racial”:
falsa consciência da inclusão
sob o beneplácito das elites, da
classe média e da burguesia.

E os ladrões de sempre,
que roubaram, que roubam e, por certo,
roubarão este povo que teima em não acordar, que
continua “dormindo em berço esplêndido”,
continuam nos palácios a nos encantar
com a máxima da escravidão:
“O Brasil é uma nação ordeira” - dizem.

E assim continuamos nossa sina
- com o apoio do burguês trabalhador que
vendeu sua dignidade, que
teve seu espírito comprado, que se
esconde sob a proteção de sindicatos
fascistas e sustentados pelo Estado terrorista que
assalta, que furta o trabalhador comum
compulsoriamente dilapidando o miserável salário,
que se lhe arranca da boca a comida, do
intelecto a educação, do
corpo a moradia.

Não menos indulgente é a
burguesia intelectual
que num eterno louva-deus
locupleta-se com migalhas furtadas
comprantes das ideologias de
plantão que permite assegurar o
quinhão da dominação.

Da mesma maneira o ramo
podre da religião assim também age
utilizando o campo do sagrado
como fonte inexorável de opressão
fazendo cair sobre os desgraçados da sorte o
fogo do inferno se porventura desejarem libertação.

No mesmo ritual teleológico
segue o burocrata, o empresário e o político,
os três Poderes: o Judiciário, o Executivo, o Legislativo
– a “representação do povo”!

Não é, pois, o momento da indignação?
Porventura não é chegada a hora da libertação?

A nação não pode condescender com seus
detratores, com seus ladrões, com seus
usurpadores, com seus facínoras, com seus
ditadores - falsos democratas, antiprofetas da salvação.

Prestai atenção, ó brasileiros!
Ó povo dos trabalhadores,
povo deserdado, vexado e proscrito!
Povo (que é) aprisionado, (que é) julgado e (que é) morto!
Povo ultrajado, povo marcado!

Não sabeis que mesmo para a paciência,
mesmo para a dedicação, há um limite?
Não deixarás de dar ouvidos a estes
oradores do misticismo que te dizem
para rezar e esperar,
pregando a salvação pela religião ou pelo poder e cuja
palavra veemente e sonora te cativa?

Teu destino é um enigma que nem a força física,
nem a coragem da alma, nem as iluminações e o entusiasmo,
nem a exaltação de nenhum sentimento pode resolver.
Aqueles que te dizem o contrário enganam-te e seus
discursos servem apenas para retardar a hora de tua libertação, que
está preste a soar.

O que são o entusiasmo e o sentimento?
O que é uma poesia vã diante da necessidade?

Para vencer a necessidade há apenas a Necessidade,
razão última da natureza, pura essência da matéria e do espírito.

Dá-me, agora, ó brasileiros, um pouco da vossa atenção!
Tomai como vosso este poema e cantai em toda praça a todo cidadão.
Sustentai este grito de alerta, de levante, de atitude revolucionária
contra os vituperadores que tomaram esta nação:
(é) uma convocação para a revolta,
(é) uma ode à desobediência civil,
(é) um convite à marcha contra os canalhas,
(é) uma incitação à derrubada do Estado terrorista.

Mas também quero vos alertar:
os ladrões do Brasil e de seu povo, a
camarilha instalada nos três poderes, a
elite, a classe média e os burgueses,
jamais concordarão com este deblaterar.
E dirão com certeza:
- Não passa de um ‘esquerdista radical’,
um ‘maoísta’, um ‘leninista’, um ‘marxista’,
enfim...
‘um comunista’.

Ou, no mínimo, dirão:
um “revoltado”,
um “louco”...

Aí então deverás, desde sempre,
rechaçar e repelir veementemente a
prosa ditirâmbica dessa camarilha de ladrões.

Não dareis, jamais, o direito de te definirem,
de te identificarem, de te marcarem (feito gado encurralado)
segundo seus conceitos, seus preceitos, seus preconceitos.

E direis:
- Tens agora, ó indignos bufões, o
vicejar de um novo Sujeito,
tens, aqui, por certo, o
discurso da indignada nação, que
não quer ver o seu povo,
por toda eternidade,
dirigido pela corrupção, que
não deseja ser representado
por congressos de ladrões,
governado por rufiões do poder, que se
escondem sob a toga da inquisição.

E afirmareis a sentença da libertação:
“Se os apelos dos movimentos urbanos não são atendidos,
se os novos caminhos políticos permanecem fechados,
se os novos movimentos sociais não se desenvolvem totalmente,
então, tais movimentos
- utopias reativas que tentarão iluminar o caminho a que não tinham acesso –
retornarão, mas dessa vez, como sombras urbanas,
ávidas por destruir as muralhas cerradas de sua nação cativa”.
__________
(in EU, PESCADOR DE ILUSÕES, 2006, Ed. Lulu Press)