sábado, 28 de fevereiro de 2009

SABBATH

SHABBATH

© DE João Batista do Lago

Porque hoje é sábado

Resolvi fazer uma limpeza e

Promover a ordem no

Caos do meu quarto

– minha concha! –

É lá o meu templo sagrado

A sacristia das minhas angústias

Residência dos meus devaneios

É lá o meu canto de intimidades

Onde moram meus armários

Cofres das minhas veleidades

E assim procedi

Pouco a pouco fui fazendo a faxina

E lentamente o quarto foi-me de novo sorrindo

Deixei que o Sol entrasse pela janela

Que banhasse com raios de luz

Toda imensidão da concha que me habita

Que me segreda como pérola

Mas que me oferta ao mundo

Como hóstia

Como oblação

Aos deuses que me crucificam

Após o Evangelho das

Sagradas escrituras dos mercados

Pouco a pouco o quarto foi se transformando

Pendurando em cada cruz minhas identidades

Então reféns das liberdades do movimento dos meus pensamentos

Antes libertinos e soltos e puros...

Foi então que ela apareceu

Estava ali parada à porta...

Inerte como o Juízo Final

Olhava-me com fixação nitrogenada

Fazendo-me crer que eu era sua obra prima

Na intuição do instante da sua criação mais-que-perfeita

Fazendo com que meu corpo assimilasse sua angústia

Ali estava ela parada... Estagnada mesmo

Sem uma palavra

Apenas com o olhar fixo duma pedinte

Que de tanta fome

De tanta sede

De tanta dor

De tanta angústia

Não mais tinha forças sequer para mendigar

Ali estava ela inerte como o Juízo Final

Resolvi então dela aproximar-me

Foi aí que percebi que ela estava perneta

E como quem sente vergonha de não ser completo

Baixou a cabeça e chorou...

Chorou o choro mais profundo que me correu entre as veias

Chorou o choro do prenúncio da morte

Chorou o cântico das súplicas

Duma súplica pela vida

Como quem sabia que sua etapa ainda não podia findar

Ajoelhei-me diante de tanta resignação

Diante de tanta e quanta submissão paciente aos sofrimentos da vida...

Foi aí que ela me falou sem dizer uma palavra:

“toma-me em tuas mãos e me levas ao alpendre da tua morada;

lá serei salva pelas flores e rosas e plantas;

lá serei parte da natureza;

e mesmo que morra e mesmo que desapareça

serei entre flores e rosas e plantas

a conjunção perfeita de toda sabedoria”

Tomei-a às mãos e a conduzi até o alpendre

Ela está salva

Ela está viva

Hoje posso dizer:

Do caos do meu quarto dei vida a uma Esperança

EU SIMBÓLICO

EU SIMBÓLICO

 

© DE João Batista do Lago

 

Resta-me da ossatura a

Carne de todos os símbolos

Perambulando entre os

Apriscos da floresta

Pictórica de muitas moradas

São meus alimentos os

Instintos selvagens dos

Instantes angustiados...

Sou fera rara! Tão rara

Quanto temporais de sonhos

A vida – minha catacumba! –

Encorpa minha alma de espíritos

Hora puros... Outras impuras

Sob o açoite de vergastas

Que me movem em direção aos nadas

Selo com meus símbolos a

Diáspora de todos os povos

Encarcerados nos andaimes dos

Caminhos para Babel:

No final da jornada não há céus

Todos os demônios unem-se

Numa desesperada oração onírica

E entoam hinos sufragantes

E choram choros lamuriantes

– gritos das minhas alcatéias! –

Oh! Sensações de ondas em espirais

Que me fazem vibrar no umbral de

Loucuras santas – tantas e quantas! –

Perdoa o corpo que te abriga as dores

Salva-o dos chicotes das representações

E me revelas o sonho real

Gerado nas profundezas da carne imaterial

É lá onde desejo ser toda Possibilidade dos

Sonhos mais sublimes e perfeitos e

Matizar minhas cores na ossatura do eterno