Minha Casa Era Um Rio
(Dedicado a Eliane Marques)
© DE João Batista do Lago
A minha casa era um rio de imensidão
Tão grande... tão grande... tão imenso
Que todos os rios do mundo
Passavam pelo rio da minha casa
O rio da minha casa tinha algo de humano
Todas as noites ele vinha conversar comigo
Contava-me estórias mágicas... fantásticas
Dessas que a gente nunca mais esquece
Eram tantas as lendas que ele contava
E embalado pelas maravilhas eu navegava em suas águas
E nadava todo o percurso do rio que passava em minha casa
E navegava todos os rios que passam pelo rio da minha casa
A minha casa tinha um rio de águas profundas
Mansas, calmas, perenes e cristalinas
Águas que me abraçavam, que me acariciavam
Que me beijavam e que me amavam afetuosamente
O rio da minha casa quando me via triste
Chamava todos os rios do mundo
E dançavam ciranda ao meu redor
Até que vissem de novo um sorriso no meu rosto
Se por ventura chorasse de fome
O rio da minha casa e todos que passavam por ela
Pescavam o peixe mais belo
E me alimentavam até cessar a fome
Quando em noites escuras e sem luares
Noites que nos infestam de fantasmas
O rio da minha casa murmurava uma canção
E trazia com ela as mais belas princesas
Ah! O rio da minha casa não me deixava em solidão
Brigava com papai... ralhava com mamãe
E enchia suas almas de todos os cuidados
E os transformava em verdadeiros espíritos de proteção
Assim era o rio daquela minha casa
Hoje vivo ao léu na minha caverna
A minha casa que era um rio de felicidade
Agora na mais é que pântano. É cidade
Quantas saudades tenho daquele rio
De um rio que juntava todos os rios imensos do mundo
Do rio que passava na minha casa
Da minha casa que era o barco da felicidade