domingo, 17 de agosto de 2008

Minha Casa Era Um Rio [© DE João Batista do Lago]

Minha Casa Era Um Rio
(Dedicado a Eliane Marques)

© DE João Batista do Lago

 A minha casa era um rio de imensidão
Tão grande... tão grande... tão imenso 
Que todos os rios do mundo
Passavam pelo rio da minha casa

O rio da minha casa tinha algo de humano
Todas as noites ele vinha conversar comigo
Contava-me estórias mágicas... fantásticas
Dessas que a gente nunca mais esquece

Eram tantas as lendas que ele contava
E embalado pelas maravilhas eu navegava em suas águas
E nadava todo o percurso do rio que passava em minha casa
E navegava todos os rios que passam pelo rio da minha casa

A minha casa tinha um rio de águas profundas
Mansas, calmas, perenes e cristalinas
Águas que me abraçavam, que me acariciavam
Que me beijavam e que me amavam afetuosamente

O rio da minha casa quando me via triste
Chamava todos os rios do mundo
E dançavam ciranda ao meu redor
Até que vissem de novo um sorriso no meu rosto

Se por ventura chorasse de fome
O rio da minha casa e todos que passavam por ela
Pescavam o peixe mais belo
E me alimentavam até cessar a fome

Quando em noites escuras e sem luares
Noites que nos infestam de fantasmas
O rio da minha casa murmurava uma canção
E trazia com ela as mais belas princesas

Ah! O rio da minha casa não me deixava em solidão
Brigava com papai... ralhava com mamãe
E enchia suas almas de todos os cuidados
E os transformava em verdadeiros espíritos de proteção

Assim era o rio daquela minha casa
Hoje vivo ao léu na minha caverna
A minha casa que era um rio de felicidade
Agora na mais é que pântano. É cidade

Quantas saudades tenho daquele rio
De um rio que juntava todos os rios imensos do mundo
Do rio que passava na minha casa
Da minha casa que era o barco da felicidade

Olhar Cinzento [© DE João Batista do Lago]

Olhar Cinzento

© DE João Batista do Lago

e depois de tanta confusão
deram-me descansos os mestre
aí então pude olhar a janela do meu quarto
deu-me a impressão da porta de um cofre
cá dentro eu-segredo me guardo
e do outro lado da janela
até onde meus olhares se vão
não há revelações
lá fora está minha imagem vendo os quintais
e neles as leiras das dores
e os montes de misérias quantas
e tantas... e tantas e quantas
jorrando o pus
dos desesperados
vistos pelos meus olhos de olhares cinzentos
de um dia claro e ensolarado
melhor mesmo é ficar aqui dentro guardado
fechado no meu cofre
comendo palavras
amargas com doce de marmelada
o resto?
É só uma cagada