sábado, 21 de fevereiro de 2009

JOSÉ NASCIMENTO DE MORAES FILHO, MEU MESTRE E ÍCONE

Acabo de receber este e-mail dando-me conta do falecimento de uma das pessoas que me foram mais caras na vida, o Professor José Nacimento de Moraes Filho...

Estou pasmo!
Confesso que nem ser o dizer neste instante.
O professor Nascimento de Moraesfoi um ícone para mim. Se hoje sou poeta... O sou pelo muito que recebi dele, sobretudo o incentivo que nunca me faltou. Ele gostava da minha poesia, muito embora a "remendasse" (como dizia ele), com carinho e afeto didáticos e literários, para torná-la mais crítica e mais audaciosa.
Tenho em conta que, do muito que sei, veio-me por intermédio de José Nascimento de Moraes Filho.
Aceite meus pêsames pela morte dele.
Fraternalmente.
João Batista do Lago


Eis o teor do e-mail:

[© 2007 Joao Poeta do Brasil] Comentário: "Artigos"‏
De: José. N. M. Neto (donotreply@wordpress.com)
Enviada: sábado, 21 de fevereiro de 2009 23:22:46
Para: joaobatistalago@hotmail.com

Novo comentário sobre o seu post #221 "Artigos"Autor: José. N. M. Neto (IP: 189.81.18.9 , 18981018009.user.veloxzone.com.br)Email: lenamo@globomail.comURL : Whois : http://ws.arin.net/cgi-bin/whois.pl?queryinput=189.81.18.9Comentário:O poeta José N. Moraes Filho (15/07/1922 -21/02/2009) faleceu hoje na cidade de São Luís - Ma aos 86 anos, após uma rápida parada cárdio respiratória às 07:45 no Hospital UDI, S. Luís – centro. O poeta era cardiopata, mas mantinha-se com saúde estável. Hoje em sua residência às 07h00min da manhã ao acordar, sentiu um leve mal estar, sendo encaminhado ao hospital por familiares, faleceu no transcurso. Ao chegar ao hospital, submeteu-se aos procedimentos de rotina...sem retorno...! O velório acontece na sede da Pax União – centro. O enterro ocorrerá dia 22(domingo) às 10h00min da manhã no Cemitério do Gavião (centro). Em conversas familiares (referido por uma das filhas) ele queria morrer sem sofrimentos prolongados, em dia claro, ensolarado e festivo...Transcendental, católico, em sua linguagem quântica escreve em seus poemas como concebia vida e morte: "a luz projetou-me no infinitoe cosmovisionou-me até a origem das origens!e me vi gerar!... e me vi nascer!..- antes dos universos!Livre!...Livre!..." “... eu não nasci para mim!- nasci para a humanidade!...eu não nasci para aqui:- nasci para o universo!" Descanse em Paz poeta!Só o fato de ressuscitar a primeira romancista negra do Brasil, foi uma de suas maiores missões neste plano!Obrigado J. Batista pela homenagem em vida que prestastes ao poeta com a belíssima "METONÍMIA"!Atenciosamente,J. N. M. Neto. Você pode ver todos os comentários sobre esse post aqui:http://joaopoetadobrasil.wordpress.com/artigos/#comments Excluir: http://joaopoetadobrasil.wordpress.com/wp-admin/comment.php?action=cdc&c=242Marcar como spam: http://joaopoetadobrasil.wordpress.com/wp-admin/comment.php?action=cdc&dt=spam&c=242

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Este foi o poema que dediquei ao mestre Nascimento de Moraes (ainda em vida):

Metonímia

(Ao mestre José Nascimento de Moraes Filho,
poeta maranhense, espírito libertário do meu tempo,
que não cansa sua utopia de libertação.)


© DE João Batista do Lago

Uma voz metálica
sob a contemplação de João Lisboa
corta a barreira do vento para atingir
na outra margem da Ágora
os surdos ouvidos que
não desejam o verdejar da Ilha
que chora nas suas entranhas
a transfusão da lama vermelha.

O velho libertário
ainda que libelo solitário
quer vaticinar sua dor
num grito quase que terminal
como uma ferradura
entre os desilhados franco-luso-brasileiros
já quase derrotados em sua rebeldia
antes orgulhosa e cheia de galhardia.

A marca do tempo.
O tempo da marca.

Marca que ferroa o chão
de dor e de horror
Marca que impede ecoar
o grito parado na garganta:

alcooooooooooaaaaaaaaaa...
da alcova dos poderosos
não há de vingar nenhum descendente
apesar do tolo condescendente que te ama.

A metálica voz singra
e se faz ouvinte discurso...

No outro lado da praça
onde ouvidos moucos
- que desgraça!
antes filhos da rebeldia
hoje Narcisos “aluminados”
que iluminam o desencanto
da ilha que chora
o (quase!) derradeiro ato
ouvem
ainda que rouca pelo tempo
a voz metálica do velho libertário:

“Estarei sempre atento às tuas investidas
mesmo que isso me cause a morte
mas não te deixarei por sorte
a vantagem insana de me esculpires
na alma – com a tua lama –
a tua marca miserável de dor e fome”

A CONCHA E SUA IMENSIDÃO

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A CONCHA E SUA IMENSIDÃO

© DE João Batista do Lago

Da imensidão da concha

Recrio-me da pequenez

Invado minha floresta

À cata do rio mais limpo

Para garimpar a perolo negra

A mais sublime pedra

Gerada pela concha

Que só revela seus segredos

À sua imensa floresta

No interior da floresta

Guardada pelas águas dum rio livre

A concha jamais aborta suas pérolas

Ela recria-se com tanta imensidão

Deixa de ser pequena habitação

Para se tornar palácio de todas as pérolas

E ser o ventre de toda natureza

No movimento mais sublime da criação

Do molusco perfeito que se arrasta pelo chão

Assim é a imensidão da minha concha

Quando se lha tem guardada pela floresta e pelo rio

Não há nada mais sublime; e nem divino

Nada maior existe que sua própria dimensão

Pérola e molusco vagam a mesma floresta

E navegam no mesmo rio de águas livres

Rompendo rochedos; furando pedras

Abrindo caminhos com a força do furacão

Rasgando a imensidão da terra para nova habitação