terça-feira, 7 de abril de 2009

GLOBALIZAÇÃO

GLOBALIZAÇÃO


© DE João Batista do Lago


Do consenso saiu a máxima:
“É preciso globalizar os mercados”.
Daí em diante disseram mais:
“Derrubem tudo...
Todas as barreiras derrubem. Façam cair todos os muros.
Não poderá haver limites para o capital.
Os lucros são mais importantes que homens”.


E assim deu-se a Globalização!
Criou-se para toda nação
um deus-mercado...


Mito sagrado da dominação
Aos poucos foi espalhando pelo mundo
O credo da igreja de Washington
Pecado agora é desobedecer o mercado
Portanto juntem-se todos numa só oração:
Louvai o deus-mercado
Somente ele é capaz de livrar da escravidão...


Quanta enganação deste mandamento!


O miserável povo
No enredo de miseráveis procissões
Vai transferindo dos infernos
Da pobreza...
E da fome
Para os céus das grandes nações
Almas escapeladas
Ungidas pelo fogo dos senhores donos do mundo
Num ritual macabro de miseráveis crucificações...


E nada pode aplacar a fúria do deus-mercado
Que cobra cada vintém
Mesmo daquele que nada mais tem
Para comprar o pão nosso de cada dia
Que alimentaria
O filho seu...


Ó sina das sinas!


Até quando este povo deserdado
Há-de suportar quanta e tanta subjugação?
Até quando!?


Há uma profecia que nasce do espírito das nações vencidas:
“Para vencer a necessidade existe apenas a necessidade de vencê-la”
Este terço precisa ser dobrado no coração de cada fiel
Somente assim
Sob o manto dessa contrição ao Deus puro
Comum e solidário
Todo o povo alcançará o céu

sábado, 4 de abril de 2009

Aos que vão nascer [DE Bertolt Brecht]

Aos que vão nascer [DE Bertolt Brecht]

1

É verdade, eu vivo em tempos negros.
Palavra inocente é tolice. Uma testa sem rugas
Indica insensibilidade. Aquele que ri
Apenas não recebeu ainda
A terrível notícia.

Que tempos são esses, em que
Falar de árvores é quase um crime
Pois implica silenciar sobre tantas barbaridades?
Aquele que atravessa a rua tranquilo
Não está mais ao alcance de seus amigos
Necessitados?

Sim, ainda ganho meu sustento
Mas acreditem: é puro acaso. Nada do que faço
Me dá direito a comer a fartar
Por acaso fui poupado (Se minha sorte acaba, estou perdido!)

As pessoas me dizem: Coma e beba! Alegre-se porque tem!
Mas como posso beber e comer, se
Tiro o que como ao que tem fome
E meu copo d'água falta ao que tem sede?
E no entanto eu como e bebo.

Eu bem gostaria de ser sábio
Nos velhos livros se encontra o que é sabedoria:
Manter-se afastado da luta do mundo e a vida breve
Levar sem medo
E passar sem violência
Pagar o mal com o bem
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los
Isto é sábio.
Nada disso sei fazer:
É verdade, eu vivo em tempos negros.

2

À cidade cheguei em tempo de desordem
Quando reinava a fome.
Entre os homens cheguei em tempo de tumulto
E me revoltei junto com eles.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.

A comida comi entre as batalhas
Deitei-me para dormir entre os assassinos
Do amor cuidei displicente
E impaciente contemplei a natureza.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.

As ruas de meu tempo conduziam ao pântano.
A linguagem denunciou-me ao carrasco.
Eu pouco podia fazer. Mas os que estavam por cima
Estariam melhor sem mim, disso tive esperança.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.

As forças eram mínimas. A meta
Estava bem distante.
Era bem visível, embora para mim
Quase inatingível.
Assim passou o tempo
Que nesta terra me foi dado.

3

Vocês, que emergirão do dilúvio
Em que afundamos
Pensem
Quando falarem de nossas fraquezas
Também nos tempos negros
De que escaparam.
Andávamos então, trocando de países como de sandálias
Através das lutas de classes, desesperados
Quando havia só injustiça e nenhuma revolta.

Entretanto sabemos:
Também o ódio à baixeza
Deforma as feições.
Também a ira pela injustiça
Torna a voz rouca. Ah, e nós
Que queríamos preparar o chão para o amor
Não pudemos nós mesmos ser amigos.

Mas vocês, quando chegar o momento
Do homem ser parceiro do homem
Pemsem em nós
Com simpatia.