sábado, 20 de setembro de 2008

TUA NUDEZ


TUA NUDEZ

© DE João Batista do Lago

Tua nudez passeando pela casa
Faz de mim expectador de toda beleza.

Teus pés pisam o chão com tanta ternura,
Que chego a sentir ciúme dele!
Passo em passo, pela casa, nas pontas dos dedos,
Revelas o salto alto de um sapato imaginário
Que desfila para a procissão dos meus olhos
Tua sântica imagem corporal.
Quando passas por mim, bela e sensual,
Sinto-me cada vez mais teu devoto
Oblata da liturgia do teu corpo
Fiel adorador da tua beleza
Capaz de pagar todos os dízimos
Ficar a esmo como qualquer mendigo
Só não quero ficar sem o pão da tua sacristia:
Teu corpo, vinho e hóstia, meu alimento.

Tua nudez passeando pela casa
Faz de mim expectador de toda pureza.

Teus tornozelos carnudos e arredondados
Que pouco a pouco vão sendo revelados
São como prenúncios de desvelos segredados
Véus, como nuvens, descortinam tuas curvas:
Pernas torneadas; serpenteadas de volúpias,
Dobram-me em oração quando me enlaçam!
Dão-me nós inquebrantáveis quando me abraçam
Deixando meu corpo submisso ao suplício
Ternura agônica sem qualquer sacrifício
Vou-me rendendo, aos pouquinhos, como Tântalo
Quando já quase louco quer a bebida e fruto do teu corpo
Insuperável alimento que produz o teu horto
Jardim das Oliveiras de todos os meus gozos
Terra da minha condenação! Sou teu cristo: aceito a crucificação.

Tua nudez passeando pela casa
Faz de mim um expectador de toda singeleza.

Tuas coxas! Sinfonia do equilíbrio do universo!
Sustentam o sacrário de toda procriação
Guardam e segredam a mais pura flor de lótus
Donde toda espiritualidade nasce em profusão
Tuas coxas! Colunas que sustentam eternidade
Igreja de Lakshmi – a deusa da prosperidade –
Caminho que me conduz ao princípio do ser
Oráculo de raiares de sóis a cada amanhecer.
Venero-te quando me prendes ao teu eixo
Quando me ofereces à flor no mais puro beijo
Quando me pedes, qual zangão, para ungir o teu mel
Quando nos tornamos um no alvéolo sagrado do amor
Quando me tiras do corpo todo amargo do fel
Quando tatuas em mim, do teu gozo, todo odor.

Tua nudez passeando pela casa
Faz de mim um expectador de toda clareza.

Teus seios! Cristais que emolduram teu busto!
Vênus, por certo, de ti sentiria ciúme
A Zeus trataria de fazer queixume
Ao ver tanta perfeição no teu peito robusto
Teus seios são mais que protuberâncias
Também são fontes de enlaçaduras
Ondas que levam meu sexo às loucuras
Quando nos amamos sem quaisquer discrepâncias
Teus seios subjugam minha boca
Seduzem minha língua à presteza de todo carinho
Arrancando de ti frêmitos e loucos gemidos
Teus seios quando tocam em meu corpo
Dá-me uma vontade louca de nos querermos mortos
Para nos perdermos na eternidade sem sentidos

Tua nudez passeando pela casa
Faz de mim um expectador de toda grandeza.

Tua boca! Ah, como é quente tua boca!
Ela não precisa de palavras para falar de sentimento
Di-lo, com a força de um beijo, sem qualquer ressentimento
Todo amor mais profundo que, porventura, sufoca
Tua boca me lambe... Me beija... Me come
Me vira do avesso... Me faz ver estrelas... Me instala no céu
Transforma meu corpo num verdadeiro fogaréu
Tua boca me cala... Me fala... Me grita... Me consome...
Ah! Tua boca diz ao meu corpo o instante do gozo
Mas, teimosa insiste e palpita dentro de mim
Regaça minha razão... Floresce minha paixão...
Tua boca grita: “Não! Não paremos agora...
A sinfonia ainda não acabou! Dancemos...
Há tempo, muito tempo ainda para o amor.”