segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

CAMINHARES

CAMINHARES

(dedico este poema,
in memoria,
ao poeta
José Nascimento de Moraes Filho,
que faleceu no último dia 21/02/2009)

© de João Batista do Lago

Não me queiras tu indicar-me caminhos,
Todos os traçaste com pés de porcos.
Não. Não queiras tu impor-me teus santos;
Teus cânones – pérolas que brotam das lamas –,
E se instalaram no sacrário na sacristia
Onde se rezam orações profanas ao
Deus dos mercados que te encanta...

“Não, eu não vou por aí”.
– já dissera um poeta Régio –,
Mas tu insistes com ar de vitória
Conquistada com o vintém dos bajuladores
Que tomam tua obra como hóstia sagrada
Para em seguida cagá-la no colo ilustre
Da tua bem-aventurada sapiência burocrática.

Afasta de mim o cálice das canonizações fáceis,
Não me pretendo entre mortos das velhas escolas
De sabedorias guardadas nos armários das velhacarias,
Donde soam vozes e signos dos vampiros
Que sugam a alma do povo trabalhador,
Vilmente esquecido pela tua ânsia de atingir estrelas
Com versos de galanteador.

Não. Não me convides para seguir este teu caminho...
Meus pés não suportariam os mármores da tua igreja!
Por certo me aleijariam... E sangrariam até a morte...
Prefiro o calvário da dor... E da fome... E da miséria,
Que o banquete da pajelança dos curadores e dos ímpios
Versejadores que desfilam na corte da ignomínia;
Que vendem sua alma ao diabo como anjos de sabedoria.

De que me adianta seguir o teu caminho,
Se nele apenas se compraz a reprodução do visível?
Não. Não pretendo seguir o teu caminho.
Prefiro dar visibilidade ao não visível,
Àquilo que se esconde por detrás do teu versejar,
Mesmo que me acuses de incompreensível
Meu desejo é rasgar o verbo até ele sangrar.

Este, sim! Este é o meu caminho.
E nada me fará mudar este destino
– de escrever no pergaminho da vida
a sólida robustez da miséria e da fome,
da insensatez do homem,
do deus perdido no aquário do ser,
do sujeito obra da natureza entre Deus e diabo.