terça-feira, 10 de março de 2009

AUTOIMOLAÇÃO

AUTOIMOLAÇÃO

© DE João Batista do Lago

No Cais da Sagração

Ajoelho-me diante dos peixes...

Minha saudade

Dou-a como isca.

Não para ser pescado

Mas para me afogar

Nas águas dum rio anil

De eternos encontros

Feitos de desencontros vadios

Nadificados nas ondas

De mares incolores

O cheiro do mangue reside

Na minha toca de caranguejo

Cansado da carapaça que

Recobre o crustáceo

Num balé solitário que

Passa-não-passa... passa-não-passa...

Entre corações-detrito de animais humanos

Se me há a cruz por sacrifício

Que me crucifiquem

Diante dos peixes

Do Cais da Sagração

Lá minha imolação

Não se dará perdida

Lá me darei como peixe a toda nova vida

PROFANO

PROFANO

© DE João Batista do Lago

Dobram os sinos das seis

É mais um dia que do tempo morre

Enterrando a insensatez:

O cemitério humano

Prenhe de vermes

Ressuscitará no amanhã – talvez ! –

A angústia primeira de

Crer-se sagrado na

Profana carne do

Miserável ser de incertezas vãs