quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

...Lá das Minas Gerais

"Encaminhar ao poeta João Batista:

Regina Maranhão Caldas escreveu:

Atualmente, mais para se ver e descobrir, do que para se comprar e se ler nas bancas e livrarias. Nas bibliotecas, nem pensar. Vê lá se biblioteca, seja de Universidade ou de escolas de ensino médio - é lugar para livros de poetas vivos. Desses que andam e falam pelas ruas da cidade. Que bebem cerveja e outros ingredientes mais fortes. Que perambulam pelos becos, pelas favelas, pelos corredores da universidade, atentos à crise da Argentina, à crise da política brasileira, ao movimento sucessório nacional. O certo é que os poetas nada faturam. Uma noite de glória no cada vez mais reduzidíssimo círculo de amigos e iniciados. Uma nota nos jornais mais lidos da capital. Algumas notas suplementares.Talvez. alguns e-mails . E precisa mais? O que poderia um poeta desejar além disso. Ser reconhecido pela como benfeitor da sociedade? Ser aplaudido como um atleta? Ser admirado como uma top-model? Ser famoso como um traficante? Espaço nas faculdades de Letras? Isto já é querer demais. Professores e alunos, de todos os níveis e idades, estão preocupados mesmo é com os poetas mortos – morto para eles intelectuais ingratos – devoradores de signos, dissecadores de cadáveres.Por mim, sinto-me bem onde estou. Dentro e/ou fora das antologias. Desta ou daquela. Longe dos grupos, das gretas, dos guetos, das guerras, das grutas minerais. Se estou, não reclamo. Faço tudo, desde que comecei a literaturar desaforos, por volta dos 12 e 14 anos de idade. Lida diária. Se mereço, não sou eu que devo dizer.No mínimo, o editor. É por isto que prefiro ficar quieto. Saborear poemas em silêncio de quase vertigem como quem mastiga pedras, saboreia frutas silvestres. Doce de leite ou cachaça. Prefiro adivinhar, desde de antes dos gregos, o sem sentido do mundo. Procurar. Reviver, de perto, pássaros e pessoas, antidiluvianos. Ficar onde nunca estou. Entre anônimo e anômalo, desfrutar o tempo, como queria Drummond, tal qual se oferece. Viver o desfuturo, o lado excuso do poema. Do planeta. Sua escassa solidez. De passagem. E porque não? Afinal, em país que pouco se lê - e leitura é passar os olhos sobre - e menos ainda se quer ver, a vinda à luz de um livro de poemas é realmente coisa para se festejar. Ainda que seja uma antologia, uma babel, labirinto de espelhos e espantalhos. Literatura à parte, vale mais a vida, a busca de leitores livres para a grande aventura de escalar, perder-se em letras e ruas de palavras a cidade branca, à espera da poesia, o não lugar dos poetas, as antologias.

Jornalista, poeta e coordenador do curso de jornalismo da Puc-Minasem Arcos, Minas Gerais.