segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

VIRTUDE E PODER

João Batista do Lago

Convocado pelo editor deste portal a escrever sobre estes tempos, em princípio, tinha a intenção de recusar a deferência. O motivo da pretensa escusa era estritamente pessoal. Pensava tomar estes dias para dar-me a possibilidade de vivenciar uma experiência monacal. Era minha idéia e intenção refletir sobre a arte da Virtude e do Poder. Mas esconder-me já não seria contradizer a “Arete”? Não seria contra-senso pensá-la só e solitariamente? Foi aí que me ocorreu repensar o convite e aceitá-lo prontamente. Se minha exteriorização reflexional se fará essente em terceiros é coisa de somenos importância... Pessoalmente acredito que compartilhar com alguém – um que seja! – é a travessia para uma nova realidade... para uma nova experiência de vida... para o atingimento de um novo saber! Portanto resta-me dizer, tal qual Júlio César, ao atravessar o rio Rubicão com suas tropas, contrariando a ordem do Senado romano, em 49 a.C.: “alea jacta est” (a sorte está lançada).
Esta minha reflexão tem origem com os Sofistas. Estes pensavam (e assim agiam) que a Arete (virtude) podia ser ensinada para os jovens helênicos, aristocratas da burguesa Athenas, que se interessavam pelas questões do Estado. Aqueles jovens queriam aprender a virtude para exercerem o poder. Eis aqui o primeiro grande problema que me ocorre: pode, a Virtude e o Poder, fazerem parte de um mesmo corpo orgânico? Serem uma e a mesma coisa? Ou, a Virtude é incompatível com o Poder? Ou, a Virtude contem em si o Poder? Ou, o Poder difere da Virtude? Evidentemente que este problema sugere e pressupõe uma longa tese. Entretanto, neste artigo, não tenho a mínima intenção de assim proceder por razões óbvias: o tempo e o espaço, aqui, não permitem tal procedimento. Apesar disso, penso, o período atual favorece-me à reflexão.
Traçando um paralelo analogístico, ou seja, uma parecença, isto é, criando semelhanças de funções entre elementos dentro de suas respectivas totalidades, podemos, verificar por conclusão, que, os sofistas modernos são os nossos atuais marqueteiros políticos. E por quê traço essa analogia? Por quê aqueles (os sofistas) como estes (os marqueteiros) têm um fundamento em comum: ganhar dinheiro fácil com o seu ofício. A contestação da existência daqueles (os sofistas) não difere da contestação destes (os marqueteiros), ou seja, o método de educação não cria e nem favorece a Arete ou Virtude. Isto não significa dizer que, tanto na época da Sofística quanto na atual época dos marqueteiros políticos, o ofício, em si, não tenha algum tipo de valor. Tampouco se está dizendo aqui que o trabalho não deva ser remunerado. São conceitos que não cabem neste artigo. (Vê-se, pois, assim, que a origem do Marketing Político é mais antigo do que pressupõe a vã filosofia política da modernidade.)
O que tudo isso tem a ver com o problema criado lá atrás: pode, a Virtude e o Poder, fazerem parte de um mesmo corpo orgânico? Serem uma e a mesma coisa? Ou, a Virtude é incompatível com o Poder? Ou, a Virtude contem em si o Poder? Ou, o Poder difere da Virtude?
Antes de qualquer coisa, de qualquer resposta, contextualizo este artigo ao tempo presente. A estes dias de Festas (Natal e Ano Novo), nos quais estamos vivenciando, de alguma maneira, essa sensação, e que, por isso mesmo, somos sensíveis a essa problemática, muito embora não nos damos conta que ela é latente em nós. Pois bem, 2006 foi um ano em que a Virtude e o Poder estiveram presentes com muita clareza. Fizeram partes de nossas vidas de tal forma que, acredito com substância, que todos – todos mesmo – fomos acometidos por algum tipo de mudança – seja interiormente ou exteriormente. Mudamos. Uns mais, outros menos. Mas mudamos. O Brasil mudou. O Legislativo mudou. O Executivo mudou. O Judiciário mudou. O demos mudou. A consciência de todas essas mudanças (não importa a quantidade ou a qualidade delas) sugere-nos, a todos, ter consciência como Sabedoria da Virtude e do Poder que há em cada sujeito imanente desse mesmo corpo.
Retomo aqui a questão central deste artigo: pode, a Virtude e o Poder, fazerem parte de um mesmo corpo orgânico? Serem uma e a mesma coisa? Ou, a Virtude é incompatível com o Poder? Ou, a Virtude contem em si o Poder? Ou, o Poder difere da Virtude?
Não quero agir como um sofista, ou seja, ser apenas um retórico. Em razão disso sugiro que tomemos esta questão e a realizemos interiormente em cada um de nós. Que saibamos descobrir conscientemente qual Virtude nos compete e nos compele para um mundo futuro onde a Ética seja a essência para todo o corpo. Para a “alma” e para o “corpo”: mente sã em corpo são.