quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

CONCERTO PARA SAUDADES

CONCERTO PARA SAUDADES

 

© DE João Batista do Lago

 

Que harmonia de sons é esta

Que ressoa da minha carne

Se da carne minha

Foram tirados

Pedaços da alma?

A fúnebre alegria de mim

Ser-me da eterna possibilidade

Um movimento do real

Na irrealidade da presença

Onde não-ser é todo o Ser...

Na inércia do vazio profano

Os acordes duma sinfonia assíntota

Não encontram a esfera do meu corpo

Que deseja a Ópera do Encontro

Ou apenas uma valsa para dançar...

Fico-me então com as notas musicálicas

Reverberantes de sonoridades fractais

Na imensa solidão do salão universal

Onde as teclas dum piano cerebral

Produzem sinfonias de saudades...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

PARA TODAS E TODOS QUE FAZEM PARTE DESTA MINHA COMUNICADE MULTIPLYANA...

domingo, 14 de dezembro de 2008

PARA MINHA MÃE QUE SE ENCONTRA NA UTI

REVELAÇÃO

© DE João Batista do Lago

Estou ao seu lado

Tentando uma palavra-mãe

Na mudez do corpo-ovário

Que me fizera

Descendente de Deus

Ou do macaco.

Digo palavras-coisa

Feito máquinas des-humanas

No silêncio do espaço

Entre outras máquinas

Que presumem

Sustentar uma vida.

A máquina não fala

O corpo se cala

E eu me esforço na fala

Brigando com tubos

Que entubam a alma calada

Da mulher que me pariu.

E o homem-deus...

Ou o homem-macaco

Repete baixinho

Que ela precisa vencer

Essa agonia monológica

De sua noite escura.

Sinto então que as trevas

Não se fazem presentes nela

Mas em mim que sou o gerado

Prestes a bezerro desgarrado

Das tetas que me sustentam

Com o único leito da vida.

Seria possível morrer-me

Para que dela fosse possível vida?

Não! Infelizmente não há saída...

Apenas a impotência dum ser

Que espera vencer o medo de perdê-la

Para sempre e toda a eternidade

Nada mais justifica minha presença

Se nela há toda ausência dela.

Estou perdido no labirinto das teias

Tentando deste instante a resposta

Para entender o sangue das veias

Que se esvai e se lava no rim artificial

E retorna ao seu leito normal

Como possível alma matricial.

Ó, como é possível morrer assim?

Esses tais mistérios da vida

Que nada revelam em cada fim

Continuam o desfilar do nada

Na versão suprema de cada ser

Que retornará para a reciclagem.

Ainda assim preferiria a mim

Fosse primeiro que ela...

Minha passagem é tão inútil

Que não me permite tomar este trem

– nele não há poltrona para João-ninguém –

De eternos viajantes da Virtude e do Bem.

Mas, se fores mesmo agora

Terás de mim única promessa:

Tua presença será eterna

E a quantos possíveis for aqui na terra

Dir-se-á de toda tua grandeza

Numa só palavra de revelação: MÃE.