domingo, 6 de julho de 2008

RESPOSTA DA POETA MARILDA CONFORTIM AO POETA TONICATO MIRANDA

Quando a poesia chega sem avisar



De Marilda Confortin

Para Tonicato Miranda



Hoje a poesia

me chegou cedo

antes do dia nascer

antes do corpo acordar

me pegou de pijama e chinelo de dedo

com quem vem pra almoçar.



Hoje a poesia

me chegou sem aviso,

de improviso,

como um morcego pálido

que esqueceu de dormir

como um amor cego

que não sabe pra onde ir.



Me chegou pelo Lago

como um anexo

que se enrosca em rimas,

ramos, tocos, versos,

procurando nexo

para desembocar no mar.



Hoje a poesia

me pegou despreparada

invadiu meu domingo

como uma enxurrada

e eu sem barco, sem bóia,

sem remo, sem rumo

... e eu que nem sei nadar.



(Nessa hora, a poesia e eu começamos a brigar:

- Recomponha-se, mulher! Que meleca de poeta é você que se derrete só de ler uma poesia na internet?

- Não quero me recompor! Quero compor um poema de amor.

- Deixe de ser ridícula! Já começou com as riminhas pobres...

- Então me dê rimas ricas ou caia fora!

- Eu não disse? Me deu um ultimato só pra rimar com Tonicato.

- Ah! vai vê se eu to na esquina... vou abrir um vinho continuar em prosa. Você devia me inspirar e não me criticar.)



Pois é, querido Tonicato! Minha relação com a poesia é assim: Amor e ódio. Casca e ostra. Pérola e porcos. Gemidos e grunhidos. Hoje ela não quer brincar comigo. Mas justo num domingo você me presenteia com um poema lindo assim? Domingos são dias de poemas de maldizer... Não sei o que fazer... nem teu email tenho... vou jogar essa garrafa no Lago e ver se ele a leva até você.



Se ela te chegar mansa

recolorindo paisagens

tire os tocos do caminho

dê passagem,

deixe que entre devagarzinho

vagando, vazando

pelas margens

mostre a porta

acolha-a em tua comporta.



Se ela te chegar provocante

dançando fandango

tango ou flamenco

não ouse um só lamento

seja abusado

grite Olé!

agarre-a com unhas e dentes

e faça do teu peito

um tablado.



Mas, se ela chegar quieta

e te atrair para a teia

não te debatas.

relaxa, és ceia

saboreia tua morte, poeta.



E por fim, se ela te chegar de manhã

manhosa, num dia sem sol,

se enfiar debaixo do teu lençol

como um morcego procurando abrigo

meu amigo, apaga tudo

ela não veio pra se explicar

ela veio pra te deixar mudo.




Obrigada, Tonicato

Obrigada Lago.


Marilda Confortin

Recanto das letras - prosa, verso e poesia recitada
Curto e grosso - poetrix e otras cositas mas

MORCEGOS AMARELOS [DE Tonicato Miranda]

MORCEGOS AMARELOS
(dedicato a Marilda Confortim)

DE Tonicato Miranda
Curitiba (PR) 05/07/2008

a poesia
quando
vem a mim
vem assim
aos poucos
de manso
para mansinho
de um ganso
para o patinho
contornando tocos
desviando dos loucos
ativando meus sentidos
mudando minha cor interior
recuperando dados perdidos

a posesia
quando
vem a mim
bem assim
vem bailando
de vestido rodado
saia de chita e fitas
pés descalços
amssando o tablado
fandango pulsando
meu coração e o sangue
jorrando em todos os meus rios
arrastando tudo das margens
enchente forte em todas as imagens

a poesia
quando
vem a mim
aranha vistosa
às vezes Lânguida
às vezes cândida
quase sempre cheirosa
mas pode também ser
revolucionária, guerreira
mesmo quando vem de mulher
arrebatando meu olhar e este mar
que há dentro de mim qual concha
abrigando pérolas que desconheço

a poesia
quando
vem a mim
cem assim
muda meu jeito
açoita meu peito
deixa-me triste ou quieto
passeando por bem perto
quase recolhido, na gruta escondido
eu e meus morcegos amarelos e belos
debaixo do cobertor, querendo um amor
para passear em caminhos imaginários ao sol
colher flores nos jardins das cores do teu olhar
aí onde gosto de sentar para ler simples jornal