terça-feira, 29 de julho de 2008

Caimão Amazônica [© DE João Batista do Lago]

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Caimão Amazônica



© DE João Batista do Lago



Eu, que nem tive a primazia de te conhecer

Eu, que muitas vezes te acusei de tolo... idiota mesmo

Eu, que cheguei a duvidar dos teus ideais

Eu, que lamentei e chorei teu corpo crivado de balas:

Morrer, sim, mas crivado de balas, destroçado pelas baionetas, se não, não.” - dissestes um dia num verso quebrado duma poesia...


Eu, agora sei: tinhas razão!


De fato é preferível morrer crivado de balas, que morrer nesse rio caudaloso de corrupção;

Lentamente ver-me sendo afogado pela sanha maldita da miserável dominação

Que pouco a pouco, dia após dia, vai-me roubando águas e florestas;

Vai-me construindo exilado dentro do pouco verde que me resta: Amazônia!

Amazônia cantada e decantada pelos senhores donos do mundo

A nos plantar como grileiros no nosso próprio chão...


Agora eu sei, meu caro Chê,

Tinhas de fato toda razão!

Quem me dera agora – ainda que crivado de balas -

Tomar tua mão de menino

E transformar a Amazônia numa nova Caimão...

Quem me dera, hermano Chê!


Se tua coragem tivesse

Nossos hermanos índios não seriam soldados rasos da dominação

Por certo teriam consciência

Por certo saberiam da brasileira nação

Não se venderiam como encantados

Para morrerem, no futuro (todos!), enganados


Eu agora sei, hermano Chê, tinhas de fato razão!


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Curitiba (PR)

29/07/2008


quinta-feira, 24 de julho de 2008

Arco-íris [© DE João Batista do Lago]

Arco-íris


© DE João Batista do Lago


olhares de iridescências infantis
disfarçados pela beleza das cores
vão revelando os segredos senis
inculcados em espíritos de dores


seguem esses espíritos irisados
ofuscados mesmos pelas cores
ideologias fúteis dos televisores
cegando a íris do povo encantado


pedra encantada que enfeita a sala
aos poucos vai roubando as almas
agora sem cores; enterradas nas salas


túmulo de mentes de tudo abduzidas
jazigo de espíritos cegos e condenados
igreja sem sol... de todos olhares iriados

terça-feira, 22 de julho de 2008

mapa [© DE João Batista do Lago]

mapa





© DE João Batista do Lago





o xis que me leva ao tesouro

é o xis do tesouro:

mapa disléxico

que me segreda infinitamente

que me esconde do ser

para ser o ser

que se esconde na floresta do ser





o tesouro enclausurado

guardado a sete chaves

revela o degredo dos segredos do ser

que infinitamente se esconde de ser

fechado no cofre do eterno ser

prenhe de medo do ser

que se esconde para sempre o ser





meus segredos são meu ser - meu degredo! -

que na infinita memória da floresta do ser

torna-se o xis do mapa:

não há signos nem há também sons

que o descubra para ser o ser

que se esconde no infinito caminho

do ser que se esconde de ser

segunda-feira, 21 de julho de 2008

SONETOS LXXXII [© DE João Batista do Lago]

SONETOS LXXXII


© DE João Batista do Lago


não me lamento da seara dos puros
sempre nascidos foram dos espermas sagrados
eternos cafajestes sós e enclausurados
na sacristia de carnes e verbos de impuros


não. não me lamento de ser homem
tampouco verme de ventres acariciados
moldados feitas hóstias que se consomem
de noites e dias varridos pelos ventos dos desgraçados


não me há nenhum lamento de o ser
venerado pelos torpes verbos vindos do sagrado
sem o lamento das dores do crucificado


não me fora então por sorte massacrado
choraria meus horrores na esquina dos idolatrados
onde igrejas me veneram em cânticos despudorados

sábado, 19 de julho de 2008

caos (dedicado ao poeta J.B. Vidal) © DE João Batista do Lago

JB Vidal e João Batista do Lago

caos

(dedicado ao poeta J.B. Vidal)

DE João Batista do Lago

entre a tensão de mudanças e de origens
cobra-se a mudança da origem.
como mudar o caos da virgen?
nela não há céu, tampouco inferno;
não há terra, tampouco mar!
Ela é simplesmente caos:
abismo nebuloso que me faz vagar
como força misteriosa
moldada entre vazios diásporos.
e assim, filho do caos da virgem
vou-me originando em cada verbo
sem pressentir que em cada verso
pretendo transgredir a virgem
num poema feito de versos noviços
pensando rasgar o abismo
da virgem em palavra que me pariu poeta
poeta sem terra, nem céu!
poeta sem inferno, nem mar!

[...]

poeta do caos!

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quarta-feira, 16 de julho de 2008

Coleóptero [© DE João Batista do Lago]

Coleóptero

© DE João Batista do Lago

Vasto-me de indivíduos-inseto
Desde a planície ao planalto
Vago em vôos rasantes
Perscrutando a presa fácil
Que me servirá de covil
Onde nem veredas mais há
Neste deserto que um dia foi floresta
- floresta de pau-brasil!

Vasto-me, assim, Coleóptero!
Voando com asas de estojo
Entre as éticas e as virtudes
Enfim, é preciso esconder o nojo
Que de mim fede como joaninha
Perfume de colarinhos brancos
Já encardidos pelas roubalheiras
- desta floresta jaz uma nação inteira

E de tantos indivíduos-inseto
Vasto-me não-conspícuo
Na inclareza das identidades
Sem ter por certo a pureza de formar
Desde a planície ao planalto
Uma nesga firme de caráter
Que me revele sujeito capaz de ter
- desta floresta! - toda virtude; todo poder!

terça-feira, 8 de julho de 2008

SONETOS XII [© DE João Batista do Lago]

SONETOS XIII



© DE João Batista do Lago



Sustentas tua ignomínia como vértebra sacral

Teus atos e palavras são punhais de corações

Neles não há dó nem pena. Há conjurações

Que se refestelam nos salões do teu umbral



Velas a miséria humana qual corvo astuto... Faminto.

Esperando que logo a carne se faça verbo podre

E assim possas saboreá-la como mel de absinto

E confortá-la no âmago a melancolia que te faz pobre



É dessa tenaz amargura que te pensas nobre

Sem ao menos saber de ti a grandeza fútil

Revelas ao final o ser que resta para ti inútil



E ao final de tudo resta o todo-ser de pobre grandeza

Apenas corvo faminto regurgitando sua nobreza

Posto que incapaz de ser será refém de eterna pobreza


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domingo, 6 de julho de 2008

RESPOSTA DA POETA MARILDA CONFORTIM AO POETA TONICATO MIRANDA

Quando a poesia chega sem avisar



De Marilda Confortin

Para Tonicato Miranda



Hoje a poesia

me chegou cedo

antes do dia nascer

antes do corpo acordar

me pegou de pijama e chinelo de dedo

com quem vem pra almoçar.



Hoje a poesia

me chegou sem aviso,

de improviso,

como um morcego pálido

que esqueceu de dormir

como um amor cego

que não sabe pra onde ir.



Me chegou pelo Lago

como um anexo

que se enrosca em rimas,

ramos, tocos, versos,

procurando nexo

para desembocar no mar.



Hoje a poesia

me pegou despreparada

invadiu meu domingo

como uma enxurrada

e eu sem barco, sem bóia,

sem remo, sem rumo

... e eu que nem sei nadar.



(Nessa hora, a poesia e eu começamos a brigar:

- Recomponha-se, mulher! Que meleca de poeta é você que se derrete só de ler uma poesia na internet?

- Não quero me recompor! Quero compor um poema de amor.

- Deixe de ser ridícula! Já começou com as riminhas pobres...

- Então me dê rimas ricas ou caia fora!

- Eu não disse? Me deu um ultimato só pra rimar com Tonicato.

- Ah! vai vê se eu to na esquina... vou abrir um vinho continuar em prosa. Você devia me inspirar e não me criticar.)



Pois é, querido Tonicato! Minha relação com a poesia é assim: Amor e ódio. Casca e ostra. Pérola e porcos. Gemidos e grunhidos. Hoje ela não quer brincar comigo. Mas justo num domingo você me presenteia com um poema lindo assim? Domingos são dias de poemas de maldizer... Não sei o que fazer... nem teu email tenho... vou jogar essa garrafa no Lago e ver se ele a leva até você.



Se ela te chegar mansa

recolorindo paisagens

tire os tocos do caminho

dê passagem,

deixe que entre devagarzinho

vagando, vazando

pelas margens

mostre a porta

acolha-a em tua comporta.



Se ela te chegar provocante

dançando fandango

tango ou flamenco

não ouse um só lamento

seja abusado

grite Olé!

agarre-a com unhas e dentes

e faça do teu peito

um tablado.



Mas, se ela chegar quieta

e te atrair para a teia

não te debatas.

relaxa, és ceia

saboreia tua morte, poeta.



E por fim, se ela te chegar de manhã

manhosa, num dia sem sol,

se enfiar debaixo do teu lençol

como um morcego procurando abrigo

meu amigo, apaga tudo

ela não veio pra se explicar

ela veio pra te deixar mudo.




Obrigada, Tonicato

Obrigada Lago.


Marilda Confortin

Recanto das letras - prosa, verso e poesia recitada
Curto e grosso - poetrix e otras cositas mas

MORCEGOS AMARELOS [DE Tonicato Miranda]

MORCEGOS AMARELOS
(dedicato a Marilda Confortim)

DE Tonicato Miranda
Curitiba (PR) 05/07/2008

a poesia
quando
vem a mim
vem assim
aos poucos
de manso
para mansinho
de um ganso
para o patinho
contornando tocos
desviando dos loucos
ativando meus sentidos
mudando minha cor interior
recuperando dados perdidos

a posesia
quando
vem a mim
bem assim
vem bailando
de vestido rodado
saia de chita e fitas
pés descalços
amssando o tablado
fandango pulsando
meu coração e o sangue
jorrando em todos os meus rios
arrastando tudo das margens
enchente forte em todas as imagens

a poesia
quando
vem a mim
aranha vistosa
às vezes Lânguida
às vezes cândida
quase sempre cheirosa
mas pode também ser
revolucionária, guerreira
mesmo quando vem de mulher
arrebatando meu olhar e este mar
que há dentro de mim qual concha
abrigando pérolas que desconheço

a poesia
quando
vem a mim
cem assim
muda meu jeito
açoita meu peito
deixa-me triste ou quieto
passeando por bem perto
quase recolhido, na gruta escondido
eu e meus morcegos amarelos e belos
debaixo do cobertor, querendo um amor
para passear em caminhos imaginários ao sol
colher flores nos jardins das cores do teu olhar
aí onde gosto de sentar para ler simples jornal