terça-feira, 17 de março de 2009

POEMA PARA RUANDA (ou Holocausto Posmoderno)

POEMA PARA RUANDA*

(ou Holocausto Posmoderno)

 

© DE João Batista do Lago

 

“Nós nos veremos novamente no céu”

Zunia nos ouvidos incrédulos da colina

A voz troante dum coro vibrante

Cantando vitimas dum genocídio

Esquecido pelos senhores donos do mundo

Diante dum memorial de vítimas

 

Do alto da colina homens e mulheres de pés descalços

– indiferentes à dor e ao sofrimento e atônitos –

Assistem ao desfilar de máquinas reluzentes

Parindo deuses negros como ébanos

Todos filhos da África-mãe dolente

Agora quase sem forças para salvar os filhos seus

 

- Não compreendestes, ó filhos meus,

filhos das minhas savanas sagradas:

miserável e condenada será por toda eternidade

a maldita nação que desgraça e mata

sem dó nem piedade todos os irmãos seus

pensando fazer justiça aos olhos de Deus

 

A chama que arde sobre o memorial dos mortos

Clama pela Paz diante de tutsis e hutus de pés descalços;

Chora pelo afeto e pelo carinho e pela solidariedade nunca alcançados

Grita pela liberdade capaz ungir almas e espíritos e corpos

Ora pelo raiar dum sol de esperança mútua

Canta e dança pela juventude duma esperança vírtua

 

Amendrontados os olhares do alto da colina

Todos de pés descalços – tutsis e hutus

Pensam numa só ladainha de esperança:

“O genocídio foi algo brutal... criminoso e nojento!

100 dias foram o bastante nessa luta fatal

para matar 800 mil diante da passividade internacional”

 

Não!

Nós NÃO nos veremos novamente no céu!

- suplicam os corações do alto da colina –

Nossa sina é a dignidade e a virtude entre irmãos

Que restará preservada nesse memorial da imolação



* Escrevi este poema em 2004, data em que se comemorou o 10º do “Genocídio de Ruanda”