POEMA PARA RUANDA*
(ou Holocausto Posmoderno)
© DE João Batista do Lago
“Nós nos veremos novamente no céu”
Zunia nos ouvidos incrédulos da colina
A voz troante dum coro vibrante
Cantando vitimas dum genocídio
Esquecido pelos senhores donos do mundo
Diante dum memorial de vítimas
Do alto da colina homens e mulheres de pés descalços
– indiferentes à dor e ao sofrimento e atônitos –
Assistem ao desfilar de máquinas reluzentes
Parindo deuses negros como ébanos
Todos filhos da África-mãe dolente
Agora quase sem forças para salvar os filhos seus
- Não compreendestes, ó filhos meus,
filhos das minhas savanas sagradas:
miserável e condenada será por toda eternidade
a maldita nação que desgraça e mata
sem dó nem piedade todos os irmãos seus
pensando fazer justiça aos olhos de Deus
A chama que arde sobre o memorial dos mortos
Clama pela Paz diante de tutsis e hutus de pés descalços;
Chora pelo afeto e pelo carinho e pela solidariedade nunca alcançados
Grita pela liberdade capaz ungir almas e espíritos e corpos
Ora pelo raiar dum sol de esperança mútua
Canta e dança pela juventude duma esperança vírtua
Amendrontados os olhares do alto da colina
Todos de pés descalços – tutsis e hutus –
Pensam numa só ladainha de esperança:
“O genocídio foi algo brutal... criminoso e nojento!
100 dias foram o bastante nessa luta fatal
para matar 800 mil diante da passividade internacional”
Não!
Nós NÃO nos veremos novamente no céu!
- suplicam os corações do alto da colina –
Nossa sina é a dignidade e a virtude entre irmãos
Que restará preservada nesse memorial da imolação