sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

BELÍSSIMO POEMA DE VILMA MACHADO


No meio das trevas me vi

quando a tempestade

resolveu cair

pensei que ali ficaria

morrendo aos poucos no frio

sem nada para existir

de repente

lembrei-me do sol

que atrás das nuvens

continua a existir

e assim bem de mansinho

ele brilhou de novo em mim

explodo agora em vida

que vou lutar até o fim

pois nada neste mundo

tirará você de mim

 

© vilma machado


EU, MITO!

EU, MITO!

 

© DE João Batista do Lago

 

Os meus mitos

Estão insatisfeitos.

Não lhes tenho gerado,

Da lavoura do meu ser,

O alimento capaz

De os fazerem divinais

No Olimpo do meu caos.

 

Há muita desordem

No céu dos meus deuses;

Há muita digladiação.

No átrio da minha fortaleza

Mantenho a espada em riste:

Tentativa abstrata duma

Defesa de nadas!

 

Meus mitos não querem acreditar

Que os estou renegando!

Mal sabem eles da

Desgraçada sorte...

Ainda não descobriram

Que os condenei à morte:

- em mim estão encarcerados.

 

Roubei-lhes todo o poder.

Agora, antropofágico

– como um ciclope –,

vejo-os com o olhar uníssono

do supremo humano-deus-ser,

apenas sementes dialogais,

que vou plantando pelos campos seminais.

 

Assim estão todos os meus mitos:

Condenados aos meus suplícios;

Que lhes imponho sem perdão qualquer

Para que saibam que de mim não zombarão,

Pois deles apreendi o segredo (e)

Tomei por mulher minha mãe – Pandora! –

Que me gesta no ventre do caos agora. 

MAIS UM EXCELENTE POEMA DE TONICATO MIRANDA...

O boi na platéia
para Vera Lúcia Gonçalves da Silva

você Sol, invencível astro
nosso amo e senhor
aquele que governa a luz
o que dita para todos o sono
somente a ti invejo neste mundo

vejo os rabos dos bois na campina verde
e para quem eles balançam senão para ti
ouço passarinhos de manhã a chilrear
e para quem fazem essa grande algaravia
se não para ti
os verdes dos relvados junto à rodovia
e os matos vista afora
até o rendilhado dos picos no horizonte
estão mais verdes
e me pergunto por que e para quem
vestem-se assim, se não é somente para ti
até as nuvens cinzas deram lugar
às brancas cumulus nimbus
todas em sinfonia em retumbante Sagração da Primavera
cuja anfitriã é a Terra, mas o provedor és tu, oh Sol

por isto mesmo te desafio para o duelo do milênio
venha tu das alturas com espadas de fogo
e bolas de pedra incandescentes
que te receberei com meus escudos
de palavras, versos de gelo e abrigos de argentum
venhas tu na velocidade incrível da luz
que aqui encontrarás um manto negro para apagá-la

vejo um boi sentado sobre sua cauda
na sombra de uma árvore
cabeça e chifres erguidos e imponentes
e me pergunto
quais pensamentos insólitos voejam em seu crânio
o que pensa desta minha digladiação com o Sol
certamente o boi é o mais sábio entre os três
pois que apascentado no frescor do flamboyant
pode escolher o que focar com seu grande olho de boi
a luta do Sol com o poeta ou a elegância das abelhas
transportando mel nos seus baldinhos


Tonicato Miranda
BR-101, 27/10/2008