INAUDITA
© DE João Batista do Lago
Triste o engano da minha palavra!
Ela pensa que fala, mas não diz nada;
Coloca-se no altar como sagrada (e)
Submete ao fiel idólatra sedento de sentido
Toda miséria enclausurada no ser...
Se a palavra soubesse ficaria calada (e)
Deixaria nela a esperança renascer
Plena de sentido na imagem que fala
Como linguagem que não se cala;
Como água pura que jorra do meu poço fundo.
Porém, insiste a palavra, eterna incauta,
Ser do pensamento a razão pura;
Tola criança! Tropega seus primeiros passos...
E diante do templo do ser fica sem espaço
Não sabe de si qualquer imagem; é pura miragem!
Jamais chegará à essência como linguagem.
__________
SONHO
© DE João Batista do Lago
Ontem sonhei com a minha morte!
Jamais vivi tamanha sensação
Deste lado de cá.
Pena foi só um sonho:
Tristonho, agora me encontro.
Embalsamado pela vida
Que, vai minhas feridas
Ferindo pela eternidade.
Lá, depois de morto,
Toda paz fazia do meu corpo
A aura que me guiava
Por entre arvoredos de felicidades.
Agora,
Choro a infelicidade de
Todas as dores...
Do lado de cá não há arvoredos,
Só os degredos
Guiam minha carruagem
Que não encontra
A porta da passagem
Para a eternidade...
Ah!
Como seria bom
Se a morte me abrandasse
Todas as noites,
Que me morresse num
Abraço de eterna felicidade!
.......................................
Hoje à noite estarei pronto para a morte.
__________
INTUIÇÕES DO INSTANTE
© DE João Batista do Lago
Canto minha doçura
Serena e leve
Como a brisa
Do mar que me habita
Na insensatez da vida
Querida
Por ser miséria
Que aniquila minha vida
De torpeza alegre[no vazio do q
Não sei dizer
Nem de mim[nem de ti
Amo
Desamo
Bebo
Desbebo
Como
Descomo
...
e assim me vou
como o frete
mal pago
do dízimo
que nunca me alcançou
cobrado
nas latrinas
das igrejas
onde eu-cristo
sou
diária [mente] crucificado