domingo, 11 de janeiro de 2009

CAMINHO DAS PEDRAS

CAMINHO DAS PEDRAS

 

© DE João Batista do Lago

 

Estou do outro lado da estrada

Meus pés – já tão cansados! –

Medo tem de pisar o quente asfalto

Antes pelas pedras dos caminhos

Muito calejados...

 

Ensaio um retorno qualquer

A qualquer hora de qualquer instante

E meus pés pensam mais que mim

Colhendo pedras pelas estradas

Pedras, pedras e pedras... Pedras! Somente pedras.

 

Meus pés estão cansados de olharem estradas

De tão vazias sem chão batido,

De tão cheias de asfalto e pedras,

De tão vazias de terra molhada...

Eles querem o chão duma odisséia já bem distante

Quase esquecida pelos passos bêbedos

Dum viajante solitário e só

Pisando as pedras dum caminho esmo...

 

E sequiosos mais estão de tantas idas e vindas

De tantas sedes não saciadas

Pelas nascentes dos igarapés esturricados

E secos... E sem água... E sem nascentes...

Ah!

Meus pés têm bebido tantas e quantas pedras

Pelos caminhos,

Que se tornaram embarcações

Das pedras dos caminhos...

 

Eles têm comido tantas e quantas pedras

Pelo caminho!

Estão mesmo empanzinados das pedras

Ofertadas pelas estradas de pedras

Encontradas nos caminhos...

E continuam com fome

Os meus pés!

 

Ah!

Os meus pés continuam do outro lado da estrada:

Solitários e sós.

Continuam pisando pedras...

E só pedras!

Nos caminhos das pedras...

 

Eles querem a noite das pedras

Para ouvir o canto das sereias

Vindo do mais profundo mar...

Dum mar de pedras...

Eles querem se deitar na areia da praia

Colher conchas de pedras

Olhar o céu de pedras

E colher estrelas de pedras

Numa noite qualquer de pedras...

 

Ah!

Os meus pés

São as pedras do caminho

Dum poeta qualquer

Engenheiro dum caminho de pedras

E de pedras dum caminho

Que meus pés de pedra caminham...