CAMINHO DAS PEDRAS
© DE João Batista do Lago
Estou do outro lado da estrada
Meus pés – já tão cansados! –
Medo tem de pisar o quente asfalto
Antes pelas pedras dos caminhos
Muito calejados...
Ensaio um retorno qualquer
A qualquer hora de qualquer instante
E meus pés pensam mais que mim
Colhendo pedras pelas estradas
Pedras, pedras e pedras... Pedras! Somente pedras.
Meus pés estão cansados de olharem estradas
De tão vazias sem chão batido,
De tão cheias de asfalto e pedras,
De tão vazias de terra molhada...
Eles querem o chão duma odisséia já bem distante
Quase esquecida pelos passos bêbedos
Dum viajante solitário e só
Pisando as pedras dum caminho esmo...
E sequiosos mais estão de tantas idas e vindas
De tantas sedes não saciadas
Pelas nascentes dos igarapés esturricados
E secos... E sem água... E sem nascentes...
Ah!
Meus pés têm bebido tantas e quantas pedras
Pelos caminhos,
Que se tornaram embarcações
Das pedras dos caminhos...
Eles têm comido tantas e quantas pedras
Pelo caminho!
Estão mesmo empanzinados das pedras
Ofertadas pelas estradas de pedras
Encontradas nos caminhos...
E continuam com fome
Os meus pés!
Ah!
Os meus pés continuam do outro lado da estrada:
Solitários e sós.
Continuam pisando pedras...
E só pedras!
Nos caminhos das pedras...
Eles querem a noite das pedras
Para ouvir o canto das sereias
Vindo do mais profundo mar...
Dum mar de pedras...
Eles querem se deitar na areia da praia
Colher conchas de pedras
Olhar o céu de pedras
E colher estrelas de pedras
Numa noite qualquer de pedras...
Ah!
Os meus pés
São as pedras do caminho
Dum poeta qualquer
Engenheiro dum caminho de pedras
E de pedras dum caminho
Que meus pés de pedra caminham...
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