sábado, 3 de novembro de 2007

PALAVREIRO

PALAVREIRO

© by João Batista do Lago

Por que essa vontade louca de
Tudo encerrar na palavra?

Afinal, não é o pensamento que lavra
A gleba de imagens de larvas que a
Alma jamais deixa transigir?

“- A palavra não encerra minha alma!”
Essa é a grande mentira do poeta:
Depois da palavra ele jamais se acalma.

Retorna ao labirinto de sua lavoura
Revira a terra do ser e do não-ser
Para reencontrar na palavra
Qualquer sentido para renascer.

Encerrado na mais profunda dor
Dorme o poeta – eterno sofredor! –,
Mas ao acordar toma a palavra para
Tombar a terra e plantar o amor

Ah, o poeta! Este eterno enganador,
Veste-se da palavra mais pura e bela,
Ou mesmo da palavra mais amarela,
Para sugerir que não é um sofredor

Mas, sabe ele, que a palavra mais bela
Jamais lavra a terra infértil que desvela
Toda dor que sua palavra não revela;
Insiste: “- A terra do ser é fértil querela!”

NÔMADE

NÔMADE

© by João Batista do Lago

Caminho-me dentro do eu-cidade
Perambulo entre avenidas sofridas
Vago ermo procurando a felicidade
Deusa ausente desta cidade vencida

(Macabra)

Monstruosa no seu lamento profano
A cidade me açoita feito vagabundo
Insano; escorregadiço entre humanos
Viajo a saudade da solidão do mundo

(Sânscrito)

Entre os tijolos do sagrado vou
Construindo os deuses da cidade
Velha moradia; mórbida felicidade
Onde o ser sem palavra ficou

(Marginal)

Desço às profundezas da marginalidade
Invisível sujeito castigado pelo ócio da
Produção de classes marginalizadas nos
Guetos dos templos sagrados do moderno

[…]

Na cidade macabra
Caminho minhas dores
Sânscrito deserdado
Marginal dos amores