domingo, 10 de dezembro de 2006

ALGUMA POESIA

Alienação

Por João Batista Lago

O que faço
neste espaço?

Solitário e só
planto-me
em campos
de alienação
já sem-esperança
de ser-me a mim
tão-somente em mim.

Se puro nascido
logo alienado
fui produzido
no úbere da mater,
da santa família,
da educação,
da religião.

Alienado eu sou – então –
desde o primeiro chão
no suor da labuta;
e assim - desde sempre -
em confusa luta,
tateio (vida-ermo) feito
solitário errante-enfermo.

[...]

O que faço
neste espaço?

A Terra, meu cangaço...
O Humano, meu assassino...
A Palavra, minha hipótese...
Deus, meu condomínio...

O que faço
neste espaço?!

[...]

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Contradições

Por João Batista do Lago

Quem tu és?
Perguntaram-me certos dias.

Nunca imaginei
A questão assim
Tão saliente

Antes, porém
Pensei na Filosofia
Aquilo parecia alegoria

Quem sou?!
- Sou abstrato
- Sou concreto

Quando verdade
Sou mentira
Na realidade

Se me penso livre
Estou preso na cidade
Onde não há liberdade

Acredito-me crente
- ah, esse tolo inocente
é apenas um ser carente

Sou um socialista...
Anticapitalista eu sou.
Síntese: um mero sofista

Sou o todo
Também parte sou
Resultado: sou único

Sou o ator
Sou o teatro
Sou tragédia e dor

Sou o vernáculo
Na inação da nação
Sou sem-linguagem

Sou o sim
Assim o não eu sou
Da certeza a incerteza

Do inicio sou o fim
Da explosão sou a poeira
Recluso da terra-lixeira

Quando sou noite
Do outro lado estou dia
Antiduplo em sodomia

Assim eu sou
O perto e o longe
O diabo e o monge

Do amor sou o ódio
Do verso a não-palavra
Apenas rima sem lavra

Assim sou eu
Se crente sou ateu
Do humano o pigmeu

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Estética

Por João Batista do Lago

Não sou, sob hipótese qualquer
- como pretendes fazer crer -,
engenheiro de pedras-mortas;
sou arquiteto da Palavra em água.

Não sou, sob hipótese qualquer
- como pretendes fazer crer -,
engenheiro de formas tortas;
sou arquiteto da Virtude da água.

Não sou, sob hipótese qualquer
- como pretendes fazer crer -,
o engenheiro de paredes em desalinho;
sou arquiteto do Belo que se há no mar.

[...]

Sou engenheiro da Palavra,
Arquiteto da Virtude e do Belo.

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Eunomia

Por João Batista do Lago

Não sou filho,
Apenas - e só,
da Idiotia.
Mas sou filho,
Apenas – tão só,
da Política:
na transcendência
sou imanência;
do divino
sou o profano;
da exterioridade
sou a subjetividade;
da phisys
sou o espírito;
no sensível
sou res extensa
no inteligível
sou res cogitans

..............

Sim, sou filho
Apenas – e só:
da Metafísica,
da Matemática,
da Ilusão e
assim sou Razão.

..............

Sou Zeus.
Sou Mito.
Sou Deus.

..............

Sou tríade: Idéia Absoluta.

2 comentários:

Menina Marota disse...

"...Assim eu sou
O perto e o longe
O diabo e o monge..."

... assim tu és...poesia!

Adorei ler teus poemas!

Que mais dizer? Como se pode comentar, quem respira poesia?

Um abraço carinhoso ;)

Anônimo disse...

Parabéns pelas poesias!!!
Sucesso.... vc um grande poeta e escritor, um ser iluminado por Deus!!
Um abraço carinhoso
Dag