domingo, 10 de dezembro de 2006

UM JOÃO BATISTA VERBERANTE

UM JOÃO BATISTA VERBERANTE

Mhário Lincoln (*)

Big-Bang: Fez-se luz à sombra hermética do todo poético. Fez-se lua à poesia moderna, sem varinha mágica, à classitude ferina dos sonetos e poemas esparramados n’alma e ejaculados por força perceptível do talento e da experiência intelectual de JOÃO BATISTA DO LAGO.
Eis o explícito-legítimo da alma do livro EU, PESCADOR DE ILUSÕES. Às vezes construções poéticas imprudentes, mas literalmente racionais:
- Ah, como eu queria ter podido ficar com todas as putas...
Se em Gênesis, “no começo era o VERBO”, para João Batista do Lago, o poeta, a Palavra tem pasto livre, ama e odeia feito besta fera. Mas meiga, paterna e alertante: A los niños desesperanzados (...) são indulgentes (...) del capitalismo carrasco.
Eis um João Batista de todos os Lagos mais maduro e impecável. Belo anti-poeta da rima, mas profundo conhecedor da Filosofia e Poesia, apoiando-se na disciplina, na supra-disciplina e em momentos transnacionais, para prender-se aos elos da poética filosofal e da poética factual, num metabolismo quântico, fixado em três grandes momentos de vivência: solidão, protesto e o auto-renascimento.
Desta feita, após EU, PESCADOR DE ILUSÕES, os críticos terão que incluir a poesia filosófica de João Batista do Lago, na reservada lista de grandes nomes de poetas, filósofos e críticos, como um Hegel, um Vico, um Baudelaire, um Valery, um Rilke e porque não dizer, um Mário de Andrade com sua espetacular obra Paulicéia Desvairada, livro pioneiro do Movimento de 22.
Ao arregaçar as páginas do livro – EU, PESCADOR DE ILUSÕES - chego à conclusão incomum: só escreve tais versos quem tem asas de homem–pássaro; ou, paradoxalmente, quem consegue numa ponta livreira cativar-se com Edgar Allan Poe e Franz Kafka; Fernando Pessoa, Machado de Assis e Marx; sonhar com Miguel de Cervantes e fazê-lo laboratório para as suas agruras dantescas.
- No meu laboratório de visões/busco toda sua presença./Nela não me há.
E numa outra ponta intelectual encontrar e conviver pacificamente com a pedra filosofal, desde os Milésios – Tales, Anaximandro e Anaxímenes, passando pelos ensinamentos de Sócrates, Platão e Aristóteles; pelos sofistas Protágoras e Górgias; por entre os cínicos e céticos Diógenes e Pirro; os Estóicos e Escolásticos; chegando por fim a Kant, Nietzsche, Schopenhauer e Kierkegaard, até atingir toda a história do pensamento dos frankfurtianos e seus pós:
Apenas os idiotas pensam que o “Eu” é o único dos sujeitos.
Ou ainda, simplesmente, chorar ouvindo Gardel, para compor seu alerta para os de sua gente:
– Essa ambígua ordeiricidade brasileira (...) Sob este manto praticam-se o terrorismo social e econômico, o político e o cultural, abstrusos (...) Prestai atenção, ó brasileiros! (...) Povo deserdado, vexado e proscrito. Ou mais: Irmãos dos campos (...) é hora de guarnecer.
Eis o explícito legítimo da alma do livro: Intimidade com sua infância nas barrancas do rio Itapecuru, no Maranhão:
-Sapo Cururu,/Na beira do Itapecuru,/Há tanta saudade mirim,/Do Itapecurumirim). Uma fantástica regressão poética, com estrume e cheiro de memoráveis picardias.
Assim é João Batista do Lago. Homem-Bala no picadeiro da vida. Do Sul ao Norte poético em alguns segundos. Da infância ribeirinha ao cosmos filosofal, num dobrar de página. Assim é João Batista do Lago: num piscar d’olhos vai do telúrico ao estado de nirvana:
– Estou debruçado na janela do mundo.
Ou arrasa conceitos e dogmas em construções magníficas desprovidas de concorrência cristã:
- O cadáver da vida/floresceu entre os parreirais/O Diabo lho fizera prece/Deus e o diabo beberam/do mesmo vinho dionisíaco.
Eis em EU, PESCADOR DE ILUSÕES, um momento raro de proximidade com o perfeito e com a raridade da orquestração de forma e conteúdo:
- morro-me a cada instante. Ou (...) O canto não canta/a rima não versa.
João Batista do Lago, ao longo de sua produção poético-filosófica navega sob a bússola do ordenamento gradual e imperceptível. Acumula insights leves e conceituais em determinados momentos; mas eis que de repente, explode numa rima empírica textual:
- Nenhuma dor é tamanha/Que nela não me contenha.
Quem vai ler este João Batista de todos os Lagos, nesses devaneios e hipóteses poéticas, sentirá imediatamente sua energia magnética corroendo o bestunto dos incrédulos e moendo a medula dos hipócritas (Enganar é preciso; votar não é preciso não... com precisão). Terá, sobretudo, a oportunidade de embarcar numa viagem inesquecível pelo cérebro de um homem nascido no interior do Maranhão, em Itapecuru Mirim, mas fugaz no hábito de revirar a terra brasilis, da América Latina ou mesmo na inspiração proscrita de Crítica do Juizo, de Kant (1790), da Teoria da Ciência de Fichte ou do Bildungroman, de Goethe, na incessante busca para encontrar suas minhocas fantasmas, escondidas em montinhos de terra-santa nas velhas meias colegiais, transformadas em bola de chute e escondidas no fundo de seus armários de pau-d’arco roxo.
Quem vai ler João Batista do Lago, também viajará num tempo e espaço intermináveis para salvar este apêndice da poesia brasileira, onde Emmanuel Kant e Mario de Andrade se juntam para compor o raro cenário desta magistral pesca de ilusões, onde muita coisa pode ainda ser salva. Inclusive o autor:
- nas asas da liberdade serei salvo.
Eis o explícito-legítimo da alma do livro: João Batista do Lago está salvo, sim! Pois dá à poesia brasileira uma abissal chance de se recompor.

(*) MHÁRIO LINCOLN é jornalista e advogado; Editor-chefe do portal www.mhariolincoln.jor.br Mhário Lincoln do Brasil

Um comentário:

Menina Marota disse...

Deixo um GRANDE ABRAÇO ao meu querido Amigo Mhário Lincoln.
Foi um prazer revê-lo aqui!

Abraço carinhoso a ambos ;)