quinta-feira, 28 de agosto de 2008
A CARNE
Monstrengos há!
Seus caninos afiados
feitos presas de javalis
vislumbram o ataque fatal...
Mas, depois de devorada a tartaruga
percebem o grande mal que a si fizeram:
suas carnes estão sendo comidas
pouco-a-pouco são corroídas
nos palácios dos seus ancestrais...
Paradoxo do mal
Gabali não mais lhes dará abrigos!
O ventre que se lhes gerara recusa a imolação
Será o javali santo ou assassino?
Na pedra da imolação
Terá que comer seu própiro ventre
Pensou engravidar-se da tartaruga
Mas, fez-ze apenas oblação
Será o javali santo ou assassino?
O Sujeito-Áporo
O SUJEITO-ÁPORO
© DE João Batista do Lago
Cava dentro em mim
O inseto amargurado
Solitário em sua dor
Cava… cava… e cava
Cava silenciosamente
Desesperadamente só
Cava sem lamento (e)
Tudo que encontra: pó
Só ele vê as crateras
Onde reside o pus (do)
Ser: verme em vulcão
Humano: danado cão
Pois mesmo escavado
Não se dá por vencido
E assim convencido
Gera-se deus-inseto
Metamorfoseia-se!
Orquídico em Fénix
Surgente das cinzas
Vê-se sujeito presente
- Inseto agora ausente –
Voltado das cavernas
Pretende ser gente (e)
Plantar orquídea essentia
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Abdução
© DE João Batista do Lago
Os olhos do meu quarto
Espreitam o monstro esférico
– Nele há um mistério de deus e diabo –
A begônia trepadeira me sorri
E me pergunto:
- O que será que ela quer?
- Quererá me ornar?
- Quererá me curar?
[...]
Os olhos esféricos me observam!
A begônia é uma matilha de lobas famintas
Seja jarro; seja carne
Ela me espera com olhares de paixão
Não resisto
Corro em sua direção...
(Alma e espírito foram abduzidos!)
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Angústia
Angústia
© DE João Batista do Lago
calaram-se:
o criador e a criatura!
o verbo não se lhes fora suficiente
para a tripudiagem
que se lhes emana de almas vagabundas
calaram-se:
o criador e a criatura!
agora tristes e insuficientes
perderam o tino a coragem e a vergonha
- não tenham medo de perder a opinião! -
os deuses são assim: feitos de ilusão absoluta
não tenham medo de perder santos e anjos
aqui no inferno vos dareis abrigos
aqui podereis espiar vossas miseráveis felicidades
e podereis ter a justa angústia de si
e a certeza da remissão de pecados
vinde, pois, criador e criatura
aqui vivereis com seus humanos
aqui sabereis da virtude dos demônios
seres encantados, mas reais profanos
adoradores das imagens sagradas
dos infernos mais profundos do ser
vinde, ó criador... ó criatura...
o vinho da poesia nos confortará
nele dissaparemos todas as dores
dele sairemos embriagados
e depois de torturados pelas ressacas da incompetência
haveremos de bebê-lo
e de novo dele renasser plenos de consciência
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Carta ao poeta Tonicato Miranda
Curitiba (PR), sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Prezado Tonicato Miranda
Bem sejas.
Caríssimo poeta.
O “devaneio” diurno – aos meus olhos – tem maior significado que os “sonhos” noturnos. Mas, antes de tudo, infiro que este “campo” de devaneio ou do sonho pode ocorrer na sua metástase inversa. E ninguém melhor que os poetas para “si” nos dizerem destes fenômenos. E como sabem, muito bem, diferenciá-los os poetas sem que, para isso, façam qualquer tratado (ou mesmo teoria) psicológico ou psicanalítico!
Tenho em conta que, por isto mesmo, os poetas, transcendem os filósofos e os psicólogos. O poeta toma a natureza bruta do fenômeno e constrói, num verso ou numa poesia, toda a história do humano.
E é esta práxis que transforma o poeta num fenomenólogo, pois sabe o poeta, pela “intuição do instante – (G. Bachelard)”, que é preciso lutar contra a predisposição que leva a considerar os resultados dos processos perceptivos como descrições objetivas do mundo e os conteúdos ordinários da mente como verdades obvias.
Ao contrário – ensina-nos Edmund Husserl – é preciso assumir atitude fenomenológica, desinibida, desinteressada e crítica em relação aos hábitos mentais do próprio sujeito.
O texto escrito acima, caro poeta, decorre de posterior “leitura” de “uma” sua poesia publicada em PALAVRAS, TODAS PALAVRAS1.
E que bela poesia!
E que intuição do instante brutalmente fenomênica!
Cresci aprendendo e apreendendo que nos menores frascos encontram-se os melhores perfumes. E, permita-me a analogia, pois, em LUZES DA TARDE2 encontramos um frasco de perfume poético capaz de tornar o mundo mais cheiroso. Um frasco de perfume poético que estava (e é) guardado no “cofre” que “reside” no solar da casa-corpo! Perfume poético, que de tão estonteante fez abrir o guarda-roupa, não para perfumar uma roupa qualquer, não para perfumar uma roupa que “veste o ego”, mas para de lá arrancar num final de tarde deste agosto um corpo - “o corpo-casa” - que lá estava guardado e estendido num cabide, como se fora um corpo-smoking velho e surrado e apertado simetricamente verticalizado entre tantos outros black-tie (já) quase sufocados pela falta de oxigenação.
E quanta e tanta dialética da estética num dia de agosto, há “antes que a tarde acabe”!
O “sujeito” que fala em LUZES DA TARDE briga autocriticamente ou ao autocriticar-se com o real e a realidade implícita em si: “dúvida que de mim duvida/mais um desenho a fazer/ou num poema me fazer”.
Permita-me, poeta amigo, extrair destes versos, imagens (ou desenhos) agora puramente minhas. E começo a construção dessas imagens por uma pergunta que se me ocorre nesta minha intuição do instante: o que há ou melhor, noutras palavras, o que houve, o que de fato ocorrera “antes que a tarde acabe”?
Ocorre-me a seguinte ilação: eis aqui a questão central; eis aqui a chave do corpo-casa (armário de sentidos). Eis a chave que abre e que revela “o espírito obrando sua casa”; eis a chave que revela o corpo-casa fazendo uma tipologia fenomênica de metempsicose: “olho à janela e vejo a luz”.
Ao se colocar na primeira pessoa do verbo, o “sujeito” que fala na poesia transmuda-se; já não é mais o espírito do corpo-casa, mas a casa-humana, a casa-em-si, a casa-mesma, o ente, o ser, o poeta, o “sujeito” que faz e dá sentido à sua mundanidade!
E é assim, e somente assim, que, aqui e agora, o “sujeito” (já) posto em toda sua mundanidade, consegue “dialetizar” o fenômeno de “sentir” e de ter a “sensação” do “ar parado/o calor manso desta tarde”.
Quanta “intimidade” há no desvelo deste armário-casa!
E, se me permita, ainda, caro poeta, mais esta ilação imagética: se tomarmos a palavra armário como “um” centro de intimidade da casa-corpo ocorre-nos imaginar o devaneio (imagem) que esta palavra se nos provoca!
A primeira sílaba desta palavra - “ar” - desvela o caráter do ar que sufocava o “corpo-smoking velho e surrado e apertado simetricamente verticalizado entre tantos outros black-tie (já) quase sufocados pela falta de oxigenação”, que mencionei lá atrás.
E na mesma dimensão da imensidão desse espaço de intimidade, a última sílaba - “rio” - finda a palavra num outro fenômeno: o rio.
Porventura não é um rio, isto é, suas águas, um estádio perene de movimentos constantes e inacabáveis?
É claro que sim!
Então o que isso quer-nos dizer?
Aos meus olhos, esta imagem agora revelada significa que o “ar parado/no calor manso desta tarde” é o ponto de libertação da “dúvida que de mim duvida”, ou seja, é melhor que o ar fechado, preso, inerte e sufocante da casa-corpo (armário).
Mas a imagem desse movimento vai mais além! E se completa totalmente quando o “sujeito” que fala na poesia infere que, neste final de tarde de um dia de agosto há “borboletas belas na tarde”.
Que imagem fantasticamente fenomenal!
As borboletas são as rainhas do movimento! São incansáveis nas suas formas de movimento! São insuperáveis nos jogos dialéticos do movimento!
Não é, pois, à toa que o “sujeito” que fala na poesia, depois de extasiar-se com a intuição deste seu instante fenomenal, resolveu, enfim, declarar-se definitivamente separado do seu paradigma de racionalismo idealista para assumir, por definitivo, sua condição de “sujeito” mundano-existencialista, e nesse sobrevôo vestir a roupa mais simples, porém, a mais perfumada; perfumada com o perfume de um existencialismo concreto, onde dúvidas, egos, vontades, desejos, hábitos, crenças, fé, religião, pré-juízos, juízos, pré-conceitos, conceitos... fiquem todos entre parênteses: “a vontade de desenhar [geometria do racional] perdeu/para a vontade do poema [geometria do devaneio]”.
E de posse dessa “epoché fenomenológica – (E. Husserl)” renascer do “rio” de uma armário velho, para navegar na correnteza do “rio” prenhe de movimentos em direção ao “mar” (que também reside na palavra armário) de conhecimentos plenos: “foi bom não perder a tarde/farei desenhos mais tarde”.
Foi assim, meu caro poeta, que sua poesia veio residir em mim.
Evidentemente não sou nenhum psicólogo, não sou nenhum psicanalista, não sou nenhum crítico literário. Possivelmente nenhum destes concordem com as minhas palavras (e provavelmente não concordarão!) sobre a sua poesia, que até poderá ser vista por eles como meras palavras ou como uma poesia banal, de palavras banais; ou mesmo como um grande texto, uma poesia excepcional, de significados e significantes meta-existenciais, corolário de patologias sexuais ou de estados de mentes esquizofrênicas, donde – eles – possam extrair um não “sei quê!” de excentricidade para justificar suas rabugices ou suas regurgitações acadêmicas.
Quanto a mim, caro poeta, é preciso que o diga, elas vêem consolidar imagens mentais que povoam a consciência dum poeta que crê na fenomenologia do instante, no brutal instante em que surge: avassalador, incorrigível, irracional, animal, feroz, deblaterador... enfim, visceralista, donde sua única forma é a forma que chega no seu formato fenomenológico... gestáltico... ou mesmo louco... ou mesmo patológico...
Peço-te, meu caro poeta, mil perdões pela subversão que pratiquei no teu texto.
Ao encerrar esta missiva, peço-te mais perdão pela indiscrição de dar publicidade em alguns espaços que mantenho na globosfera.
Atenciosamente
João Batista do Lago
http://joaopoetadobrasil.wordpress.com
http://joaobatistalago.multiply.com
http://batistadolago.blogspot.com
2LUZES DA TARDE poema de tonicato miranda
Agosto 21, 2008 14:40 pm de Equipe Palavreiros da Hora
para os palavreiros
antes que a tarde acabe
dúvida que de mim duvida
mais um desenho a fazer
ou num poema me fazer
não falo de fazer como quem
veste o ego ou uma roupa
mas de fazer o corpo-casa
o espírito obrando sua casa
olho à janela e vejo a luz
apraz-me este ar parado
o calor manso desta tarde
borboletas belas na tarde
a vontade de desenhar perdeu
para a vontade do poema
foi bom não perder a tarde
farei desenhos mais tarde
domingo, 17 de agosto de 2008
Minha Casa Era Um Rio [© DE João Batista do Lago]
Olhar Cinzento [© DE João Batista do Lago]
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
O BEBÊ QUER CHUPETA... DÁDÁÁ!!! [© DE João Batista do Lago]
O BEBÊ QUER CHUPETA... DÁDÁÁ!!! © DE João Batista do Lago(*) De tudo o que está dito neste artigo, apenas e tão-somente, um parágrafo deve, de fato, ser destacado: “(...) A Arte está MORTA sim. E faz anos que fazemos teatrinho de representação infantil em torno de seu enterro pra não perdermos emprego. Não passamos é de canastrões de última categoria, com a azeitona na ponta do esôfago, segura ali por algum Nexium, Plexium, Sexium ou Mylanta, Maalox, ou anti-ácido (...)”. Digo isso pela semelhança que o parágrafo tem com a constatação nietzschiana de que “deus está morto!” ou, com a constatação foucaultiana de que quem esta morto é o homem! Tanto num quanto noutro caso devemos entender as “constatações” como “um campo” de desconstrução das “verdades absolutas” geralmente se nos imposta pela cultura burguesa, que jamais pretendera, como não pretende, ver estabelecido o campo da dialética do saber. Junte-se, aqui e agora, a inferição do A. do artigo de que a “arte está morta”. Temos, então, a formação do corpo trínico: deus + homem + arte. Não há como descartar o campo dialético “inato” (e somente neste caso pode-se pressupor uma tipologia de inatismo, pois, tudo o mais é apreendido) em cada parte dessa trindade. Todos são feitos de matérias contrastantes, sobretudo quando se colocam diante de suas verdades particulares a respeito do saber. É exatamente aqui que ocorre o campo dialético, ou seja, sobressai os contrários das verdades implícitas em cada membro desse corpo trínico. Seja Nietzsche, seja Foucault, seja Thomas – resguardadas as dimensões de tempo e espaço, e de “paidéia” – trabalham o conceito de morte partindo, precisamente, da dialética da “negação” específica de cada parte do corpo trínico, como se cada uma dessas partes fosse o todo. Negam essa verdade “absoluta” que o saber burguês sempre pretendera estabelecer. E por uma razão muito simples: deus não há sem o homem e sem sua arte de criador; o homem não há sem seu deus e sua arte de criação; a arte não há sem seus criadores e criaturas. Todas essas partes são, por natureza, subversivas. E são as suas subversões que são responsáveis pela dialética da vida. Assim sendo, quando se diz que o “deus”, o “homem” ou a “arte” estão mortos, quer-se dizer, de fato: é chegado o momento de subverter o caos; de ter a devida coragem de enfrentar a realidade mais que real das super-estruturas partindo do campo das infra-estruturas; é preciso quebrar as correntes que prendem as mentes; é preciso repensar o saber; é preciso rever e reinventar a episteme... Enfim, é preciso dizer que a única fala e linguagem que “deus” e o “homem” têm são as suas “artes”, e conseqüentemente, que a única fala que a “arte” tem são seu “deus” e seu “homem”. Afora isso tudo será decadência, ou seja: o deus “é” decadente, o homem “é” decadente, a arte “é” decadente, isto é: o deus “é” morto, o homem “é” morto, a arte “é” morta. * * * * * Mas há, ainda, uma “coisa” que gostaria de destacar e que não se encontra explicitada no artigo, isto é, “os verdadeiros dadás estão contra DADA”. Esta enunciação foi dita pelo principal “produtor” do Dadaísmo (movimento de artistas plásticos e poetas, surgido em Zurique, em fevereiro de 1916), Tristan Tzara, que inferiu, também, que “Dada não significa nada”, numa reação contra tudo e todos, posto que, o dadaísmo, pretendia-se exterminador, propunha-se desmantelar todos os valores consagrados – fossem quais fossem -, não para construir algo em seu lugar, algo julgado melhor ou utopicamente desejável, mas pelo simples gosto de por abaixo as instituições estabelecidas, as correntes estéticas em moda, a Burguesia, a Psicanálise, a Filosofia, etc. Em verdade, o dadaísmo, jamais passara de uma tipologia do Romantismo idealista; de um modo de agir anarquista; de um Iluminismo tardio. Isto não quer dizer, sob hipóteses quaisquer, que o movimento não produzira resultados convincentes; e um desses resultados fora, exatamente, Marcel Duchamp. Ao mesmo tempo é preciso inferir que o niilismo implícito no dadaísmo foi o mesmo que o levara à derrocada, dando lugar ao Surrealismo entre outros movimentos mais modernos. Assim sendo, aos meus olhos, o presente artigo dá-nos (também) a impressão de querer resgatar o dadaísmo como se fora A ÚNICA EXPRESSÃO DE ARTE verdadeira ou que, NADA, depois dele, tivera, teve ou tem a mínima importância. Este é o ponto burro do artigo! Contudo quero acreditar que seja, em verdade, mais uma “chamada” do autor para o campo de debate, pois, é Gerald Thomas, aos meus olhos, um dos melhores diretores de teatro do Brasil, e quiçá, do mundo. E sabe-o que pode fazer esta “provocação”. Ora, dizer que depois do dadaísmo tudo é lixo, não seria isso querer (re)estabelecer uma “religião” ou uma “verdade absoluta?” Não seria isso um contra-senso ao próprio dadaísmo? Porventura não seria essa “eternização” de Duchamp ou de Freud, etc..., como “heróis”, uma tipologia de mitologização ou fetichismo-academicista da arte? Não seria isso um retorno à arte burocrática da burguesia dominante? Aos meus olhos, esse desejo incubado do “sujeito” que fala no artigo – “sujeito” que não é o autor, segundo minha percepção, e possivelmente seja esta a provocação – como inferiria o próprio Freud -, poderia ser registrado nos anais da literatura psicanalista como um tipo de manifestação de condicionamento reflexo de uma mente que ainda não se despregou da sua infância latente. Quem sabe(?), para ilustrar essa inferição, Freud diria: “- Não é à-toa que esse “sujeito” vive a repetir dádádá... dádááá... dádádá...”. Em seguida ele (Freud, o herói!) explicaria sua tese mais ou menos com essas palavras de psicanalista: “- A onomatopéia (da.http://queremosportugues.multiply.com/da...) infantil implícita na palavra dadaísmo (dada + ismo) revela o campo lúdico-patológico ou a morbidez de saudades recalcadas. Esse “sujeito” (ainda) vive a sentir falta de um elemento de prazer – a chupeta – sem perceber que ela representa a falseabilidade do real ou a falta de experienciação pessoal da realidade amarga da infra-estrutura do presente; esse “sujeito”, possivelmente está com preguiça mórbida ou talvez queira contestar, por contestar, as formas e os valores dominantes da arte atual”. Seria, assim, “uma explicação” de Freud. A arte, assim como a vida, não precisa de heróis ou deuses. Neste ponto concordo com as constatações: “deus está morto” ou “o homem está morto” ou “a arte está morta”. Mas quando consideramos a questão “quem matou deus e/ou o homem e/ou a arte?”, verifica-se que, antes de matá-las, já a tínhamos como mito ou fetiche. Assim sendo deus, homem e arte jamais serão mortos. Mas, se mortos, só o serão por meio da decadência do “homem” como assinalaria o “velho” Nietzsche. ---------- (*) João Batista do Lago, 58, maranhense de Itapecurumirim, poeta, escritor, teatrólogo, jornalista e pesquisador – E-mail: joaobatistalagoster@gmail.com ========== EIS O ARTIGO DE GERALD THOMAS: GERALD THOMAS: Óbvio que a ARTE está morta: não PASSAMOS de IMPOSTORES de Renda, cabideiros de emprego: Marcel DUCHAMP, o URINOL que deixava o artesanato de pé em seu próprio MIJO! Agosto 10, 2008 17:54 pm de Equipe Palavreiros da Hora “DUCHAMP: O AUTORTURADO DaDaISTA” Está em cartaz no MAM, aqui em São Paulo, uma retrospectiva de Marcel Duchamp. A simples idéia de uma retrospectiva pra Duchamp teria sido, no mínimo, algo impensável, ridículo ou risível, quando ele rompeu com tudo, com a caretice de tudo, com o Samaritanismo da arte, o chamado “bonitismo” da arte no início do século XX. Foi aí que começou o nosso “desastre”. Duchamp, Freud, e alguns outros são os culpados pelos nossos fracassos. Mas explico. São os nossos grandes HERÓIS. Meus grandes, grandes, imensos heróis. Quem destrói pra construir é aquele que consegue transformar o mundo num abrir e fechar de olhos, e deixar todo mundo de pé, plantado em seu próprio mijo, sem ter o que dizer: claro, e não é à toa que o URINOL de Duchamp foi um dos primeiros READY MADES (achados prontos) – um combate contra a arte artesanal, pintura, escultura tradicional, etc. Sim, deixar o espectador pasmo em pé, em seu próprio mijo de espanto! Retrospectiva de Duchamp é muitíssimo estranho. Quando eu era aluno de Ivan Serpa e Helio Oiticica, eles só me falavam em Duchamp. Haroldo de Campos foi mais longe, já que era Dos Campos, um Duchamp também, Du Champos! A Arte de vanguarda fala em uníssono sempre a mesma coisa, berra sempre a mesma coisa. Mas uma retrospectiva dela nos traz uma lágrima de crystal japonês. E porque?Porque quando Duchamp cancelou sua parceria com Tristan (sem Isolda) Tzara, e deixou Paris, e virou um NovaYorkino, o movimento em si, de deixar o velho pelo novo, já tinha um significado. Falo de 1911 ou algo assim. O Armoury Show.“Achar” objetos prontos na rua e juntá-los, “casá-los” como se fosse um destino “by arrangement” no sentido oriental, é um humor que os americanos não tinham. Só vieram a ter na década de 60 com Wharol, Andy Wharol.Então, certo dia, Duchamp cancelou sua expo na Pace Gallery na rua 57 em Manhattan. Falou “retirem todos os quadros, apareço aí mais tarde com objetos novos”. E, pra juntar-se ao já famoso “NU DESCENDO a ESCADA“ (um dos mais escandalosamente LINDOS tributos à arte desconstrutivista, Duchamp pintou uma mulher descendo uma escada, nua, EM MOVIMENTO, pode-se dizer que remota e cremosamente cubista. E…..ao lado do MOEDOR de CHOCOLATE e ao LARGE GLASS (também chamado de THE BRIDE STRIPPED BARE BY THE BACHELORS EVEN - algo como: “ a noiva desnudada pelos solteiros ATÉ!, nessa ordem, escrito nessa cadência concreta das palavras) somou-se ao seu maior e mais conhecido piece ou seja, peça, ou seja, marca, ou seja QUADRO-NÃO-QUADRO, ou seja: o pai e mãe disso que chamamos hoje de INSTALAÇÃO/manifesto.A RODA DE BICICLETAEssa roda (objeto de obsessão meu) (o que posso fazer? nasci torto!), foi assim: nesse mesmo dia em que Duchamp cancelava sua Expo na Pace, andava pelo Bowery (equivalente a 3ª Avenida, na lower Manhattan) perto da Houston Street, de um lado da rua tinha uma roda de bicicleta jogada fora. Do outro lado um desses bancos de mandeira de bar! Ele GRAMPEOU, tacou a roda em cima do banco e levou o treco pra Pace! Então, esse foi o MAIOR REVOLUCIONÁRIO de todos os tempos, em qualquer contexto, em qualquer arte (porque sem ele não teríamos John Cage na música ou Merce Cunningham na dança (aliás, a Fabi estuda com o Merce Cunningham em Westbeth até hoje). A arte está morta? Rose Selavy? Como ironizava seu próprio personagem feminino com uma estrela escupida em seu CABELO, ou os cubinhos de mármore dentro de uma gailola (: porque não espirrar Rose Selavy? ou … Chega de descrever Duchamp !!! A melhor maneira e a mais triste de representar uma RETROSPECTIVA foi desenhada por Saul Steinberg. O Cartum é assim: um Coelho olhando pro Oeste está sentado em cima de uma Tartaruga que caminha lentamente para o Leste. Duchamp foi um dos primeiros ENORMES iconoclastas. Com humor. Quebrou o vidro? Deixa lá, quebrado. O acaso é otimo! O movimento dadaísta (não os surrealistas caretas e marqueteiros que só eles!), o iconoclástico, desconstrutivista, atonal, dodecafônico, serialista, abstrato, abstrato expressionista, minimalista, enfim, tudo isso visa uma só coisa: - colocar a arte debaixo da lente do microscópio, autopsiá-la; ver, dissecar se as verdades e mentiras dos séculos anteriores de música e pintura e iluminismo e jacobeanismo e Renascentismo, e ismo, ismo de anos e anos de arrotismo de tantos e tantos Rembrants, Velasquez, Beethovens, Monteverdis, Wagners, Lord Humes e Hegels e Kants, e os tantos Goethes, faziam realmente sentido na era pós Freud, na era pós industrializada numa América ainda a ser desvendada pelos bachelors de toda a humanidade enclausurada em suas culturas pré-guerra, fugindo pra lá, digo pro novo mundo, fugindo das emboscadas culturais da pequenina Europa, onde à cada 16 km o teu sotaque te colocaria num campo, num Duchamp de concentração! E no que deu? Estamos na mesma. Aliás, estamo mais CARETAS. Estamos numa era PRÉ DUCHAMP, porque hoje olhamos Duchamp como se ele estivesse no nosso passado e, toda essa porcaria pseudo inovadora (salvo alguns, óbvio, como Kiefer, Josef Beyus, Nuno Ramos, Tunga, Warhol, Damien Hirst e outros POUCOS) ainda estão naquela era de DECORAR a sala de estar da madame porque – já que voltamos aquela era do GOLD RUSH, à corrida pelo petroléo e à plantação de cana – nada mais óbvio mesmo do que declarar um ESTADO de DIREITO, e colocar um estatuto logo de uma vez: O que vale aqui é o muralista Siqueiros, ou o medíocre Portinari, ou o idota do Henry Moore, ou a Hepworth. E o povo, ignorante como sempre, se concentra ali na estátua dos retirantes no Ibirapuera, a metros, meio quilometro da RETRO de Duchamp, sem sequer saber o que foi tudo aquilo, ou se o ovo de Colombo ficou em pé ou não, porque, afinal de contas: não foi Pedro Alvares Cabral que descobriu as AMERiKas de Kakfa? A Arte está MORTA sim. E faz anos que fazemos teatrinho de representação infantil em torno de seu enterro pra não perdermos emprego. Não passamos é de canastrões de última categoria, com a azeitona na ponta do esôfago, segura ali por algum Nexium, Plexium, Sexium ou Mylanta, Maalox, ou anti-ácido. Afinal, antigamente as pessoas tomavam ácido. HOJE: só tomam anti-ácido
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Princípio, Meio e Fim [© DE João Batista do Lago]
Poesia do Aliterado [© DE João Batista do Lago]
POESIA DO ALITERADO
© DE João Batista do Lago
meu amigo
teu verso (in)criado é reino
linguagem de ausente fala
vasos de flores sobre túmulos
tua cabeça de burro
tua pela de leão
\o/
vontade tanta – pra quê?
tuas leiras de frases
tuas montanhas esquizofrênicas
tremeluzir megalomaníaco
esconde sob pele de leão
ouro Equus asinus
tua crina
dna de escuridões
adorna
denuncia
falencia
caixa de pandora
vontade tanta
esperança tanta
pra quê?
teu jardim
comercia excremento
dizes de tudo – o tempo todo –
novos tempos
tu regas (com)paixão
teu é catacumba
tua miséria
entoa tua valsa de sorte
tua vida atoa
teu carnaval difuso
teu desfile de verborreia
não consegue essência do leão
tua eterna perseguição: \o/
teu pedido
será configurado
grafado
regristrando eternidade
\O/
sob pele de leão
esquecimento
solidão
sábado, 9 de agosto de 2008
SEMIÓTICA [© DE João Batista do Lago]
SEMIÓTICO
© DE João Batista do Lago
Ali, na taberna, dois homens se encontravam!
Diante deles: dois copos.
Sentados estavam em mesas diferentes;
Em cada mesa três cadeiras continuavam vazias.
A quarta eles ocupavam!
O homem da direita tinha um copo cheio de vinho;
O homem da esquerda um copo cheio de nada.
Ambos olhavam seus copos e seus conteúdos;
Ambos conversavam com seus objetos.
Lá pelas tantas os dois resolveram ir embora;
Ficaram para trás os copos vazios…
As mesas vazias…
As cadeiras vazias…
[...r...]
O homem da esquerda saiu completamente bêbedo: sóbrio!
O homem da direita saiu completamente sóbrio: bêbedo!