terça-feira, 30 de outubro de 2007
MARAVILHISMO
© by João Batista do Lago
Pari-me aqui e acolá de
Mãe eterna assexuada
Sou assim parteiro de mim
– eu mesmo enfim –
Gritei toda dor placentada
A noite muda gritou no dia
Fez reverência a toda miséria:
“Maravilhas!” – soaram as cornetas
Heróicas torres das Artes
Aqui e acolá foram feitas
O século agora pode exibir
Pode ofertar aos proxenetas
Pode da Virtude querer exigir
Salmos e cânticos a baionetas
Dizer a todos: “Venham ao elixir”
Encantados – o parteiro e eu –
Segredados em noite e em dia
Parimo-nos no poeta, no artista
Brindamos à cortesia capitalista
Damos graças à fome em agonia
Agora não são apenas sete os ricos
Também não são apenas as sete irmãs
Pari-me aqui e acolá – há-me em todo lugar –
Até no alto do morro está Alá a brilhar
Abraçando a miséria em farto ejacular
Maravilha-se: “Ó santa pobreza!
Tua é a miséria e minha é a beleza
Manter-vos-ei sob os meus pés
Guardar-vos-ei nos sopés da montanha
Guarda-alma de miséria tamanha”
domingo, 28 de outubro de 2007
IMAGINEI FAZER UM POEMA DE AMOR
© by João Batista do Lago
Imaginei fazer um poema de amor
Cantar a beleza da vida
Falar dos rios – e dos peixes
Conversar com os animais
Sentar-me à sombra de uma mangueira
Escutar a voz do vento
Ouvir a sinfonia da floresta...
Imaginei...
Imaginei fazer um poema de amor!
Mas como cantar a vida
Se dela toda sorte é toda morte?
Como falar com os rios – e os peixes –
Se deles restam apenas sorte?
O que conversar com os animais
Se eles são apenas restos mortais?
Imaginei...
Imaginei fazer um poema de amor!
As mangueiras sem sombras estão
São sós carvão e brasa – e fogo –
O vento - quanta magia! – já não assovia
Virou aluvião: pavor e inundação
As florestas! Ah, essas então, pedem socorro
E executam em pranto seu último réquiem
Imaginei fazer um poema de amor
Mas toda miragem lírica era somente dor!
EUNUCO
© by João Batista do Lago
Ah! Essa tola e infantil vaidade
Ainda sequer pela vida gerada
Imbecil e arrogante mocidade
Entulho da verdade famigerada
Desfila sua arrogante jovialidade
Julga-se da Poesia o grande Apolo
Ó, eco de velhos casarões da cidade
Indigno de dizer-se: “- Extrapolo!”
Desconhece a humildade necessária
Arroga-se agora deus da palavra (e)
Fere de morte o Templário que lavra
Sua triste e torpe alma desnecessária
Condenada a penar por séculos afins (a)
Infeliz mocidade aventureira da sorte
É verme sem versos da cidade que morre
Prenhe de demônios que se julgam serafins
sábado, 27 de outubro de 2007
IDEOGRAMA
IDEOGRAMA
© by João Batista do Lago
Hoje acordei com alma da Paixão
Quero este dia na minha eternidade
Reencontrar a criança que deixei lá atrás
Reviver minha infância (e)
Retornar a adolescência (e)
Reencontrar-me eterno neste instante
Hoje estou apaixonado pelo Amor
Quero-o em sua plenitude
Tomar tua mão… Andar por aí…
Passear em teu corpo sem pedir perdão
Sentir o teu gosto de açucena
O teu perfume de mulher
Ah, hoje acordei como as árvores
Translúcido de galhos e de frutos
Prenhe de orvalhos desnudos
Sedento em saciar a sede da Virtude
Plena raiz de harmonia com a terra-mãe
Sem pedir perdão para ser feliz
Hoje sou a Paz mais profunda
Desperto para o abraço mais apertado
Trago n’alma toda ideografia do Amor
Tatuagem plena de saber-te Eu
Sinal de quem deseja derrotar a dor
Marca da vitória sobre o Homem sofredor
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Crédito da Ilustração: http://www.ebanataw.com.br/roberto/fengshui/kanji/RMWamor.jpg
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
HEDONISMO
© by João Batista do Lago
O capricho dos deuses
É pura ignomínia
Destinaram-me aos prazeres
Mas roubaram-me a hedonímia...
Assim subjugado
Maldito e condenado
Carrego este fado
Maldito – repito! - este destino
Que me tira o rumo e o tino
Das vidas outrora prazerosas
Entre deusas amorosas
Que a Juventude carnosa
Virtuosa e valorosa – em rosa
Reinava em bacantes dionisíacas
Depois dos vários prazeres
Restou-me deles os faleceres
Das fugacidades vivídicas
Hoje nem mesmo os saberes
De aretes apolínicas são verídicas
Aretes não são hedônicas – são vidas jurídicas
Distante – e longe – das bacantes dionisíacas
Mas negam-se os deuses
Aceitarem tamanha tirania
Desde os tempos de Elêusis
E para resgatar a Ética
O grande Zeus já dizia:
“- Não são os deuses, mas sim os próprios homens,
que pela sua imprudência aumentam os seus males”.
[…]
Maldito e condenado
Carregando este fado
Assim subjugado
Este Homem sem destino – sem tino
Segue transferindo seus lamentos
Procurando encontrar para suas dores
Um campo dêitico para deitar seus horrores
CARTA PARA OUTRO-EU
Olá, meu caro.
Há quanto tempo não nos falamos!
Gostaria de ter notícias tuas...
Como andas? O que tens feito da vida?
Sabes, ainda ontem andei pensando em nós dois.
Quando éramos crianças (lembras?)
brincávamos no alpendre lá de casa,
corríamos por entre quartos, paredes e corredores...
Ah, o Rex sempre nos atormentando,
atravessando nossos caminhos
mordendo nossos tornozelos...
- Parem, meninos, parem com essa correria.
Gritava mamãe sempre que passávamos por ela,
escrava que era daquela máquina de costurar:
tchic, tchic... tchic, tchic... tchic, tchic... tchic, tchic... tchic, tchic...
tchic, tchic... tchic, tchic... tchic, tchic... tchic, tchic... tchic, tchic...
Assim ela ia cosendo nossas vidas, nossas histórias... e nossas estórias.
Dia após dia de intermináveis costurares!
Mas nós continuávamos a brincar, a correr, a pular:
E ela: - Parem, meninos, parem com essa correria – insistia em nos alertar.
E a máquina: tchic, tchic... tchic,tchic... tchic,tchic... tchic, tchic... tchic,tchic...
tchic, tchic... tchic,tchic... tchic,tchic... tchic, tchic... tchic,tchic...
Ah, meu caro, tenho pavor às saudades, mas
percebo que hoje, ao alcançar esta minha idade,
elas se apresentam tão salientes que são difícil não escutá-las.
Elas estão presentes em tudo e em todos os lugares!
Ó, amigo, essas saudades são de amargar, me
incomodam e se instalam em qualquer lugar
ficam o tempo todo a me vasculhar...
Saudades são como carrapatos de almas,
verdadeiros parasitas inconfessos
sanguessugas de velhas e novas lembranças, (que)
roubam a consciência da presente esperança.
Sabes! Hoje tenho nítida sensação de me haver
internado numa masmorra. Sinto-me preso.
Estou isolado num infinito labirinto.
Não sei quando entrei... e nem por onde.
Não encontro portas de saída. Estou só.
Vago noites e dias entre as paredes frias da
minha masmorra sem portas. Ouço o
lamento do vazio num eterno calafrio de
vozes que me vêm do além mais próximo de mim:
ecos de dores... de horrores. São
quermesses do nada exaltando o meu fim.
Vês, meu caro, o quanto sinto tua falta?
Preciso-te. Necessito alentar minha dor, pois
somente a palavra do poeta – palavra de sofredor! -
não resolve a carência maior de minha paixão em flor.
Sim! Preciso-te, caro amigo, para
novamente corrermos entre quartos, paredes e corredores
conversarmos com o vento e a infância, sem
precisar ficar espantado com a adulta ignorância.
Sim! Preciso-te. Urgentemente preciso-te.
Preciso-te para viver minha eternidade de criança.
Preciso-te para sair desta masmorra. Deste labirinto.
Abraço-te, meu caro.
Eu.
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
EUNOMIA
© by João Batista do Lago
Não sou filho,
Apenas - e só –,
da Idiotia.
Mas sou filho,
Apenas – tão só –,
da Política:
na transcendência
sou imanência;
do divino, sou o profano;
da exterioridade sou a subjetividade;
da phisys sou o espírito;
no sensível sou res extensa
no inteligível sou res cogitans
[…]
Sim, sou filho
Apenas – e só –
da Metafísica,
da Matemática,
da Ilusão e
assim sou Razão.
[…]
Sou Zeus.
Sou Mito.
Sou Deus.
[…]
Sou tríade:
Idéia Absoluta.
Uno.
terça-feira, 23 de outubro de 2007
ETERNA PAIXÃO
ETERNA PAIXÃO
by João Batista do Lago
Como jardineiro solitário
Reguei cada flor dos (nossos)
Desencontros nunca marcados (e)
Em cada rosa
Plantei uma pétala de versos
Pensando um dia ela fosse colhida
Pelas mãos da Justiça
Oh! Themis
Hoje trago espinhos nas mãos (e)
A mesma esperança d’um dia
Ser-te espada e balança (e)
Com a doçura do nosso amor-criança
Ver nascer do jardim-infância
Aquele amor-paixão (quase)
Esquecido no jardim da ilusão
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
SONHO ESTRANHO
SONHO ESTRANHO
© by João Batista do Lago
Ontem a noite tive um sonho…
Lá pelas tantas da madrugada.
Um sonho no mínimo estranho.
Desses difíceis de revelar.
Sonhei que tinha morrido num
domingo de primavera.
E tão bela a morte me viera
trazendo consigo a bela Quimera!
Oh! Quão bela donzela:
Metade mulher; metade serpente
Ah, essa Quimera ardente
transfromou a pedra fria em
leito quente e me amou
despudoradamente… apaixonadamente…
Ah! essa Quimera envolvente não
tinha cabeça de leão, nem
tinha o dorso da cabra, tampouco o
a parte posterior do dragão.
Ah, essa quimera só tinha paixão
e me amava, a mim, Belerofonte, em desrazão
sobre o dorso de Pégaso a caminho do Olimpo
onde somente os deuses amam com total razão.
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Crédito da Ilustração: http://www.casadacultura.org/arte/arte_digital/bruno_santos/quimera_grd.jpg
ÓPERA DO HUMANO
© by João Batista do Lago
Proliferam deuses… Senhores donos do mundo!
Surgem da escuridão e das noites dos tempos
Eterno movimento de sanguessugas modernos
Encenam no teatro da vida a tragédia dos infernos
Desventura da miserável ópera humana
O homem protagoniza o enredo da sorte
Entoa em salmos sua oração mais profana:
Vencer o irmão e subjugá-lo até a morte
Oh! Atores das desgraças abissais
Homens desgraçados por séculos serão
Tua triste sina não se findará jamais
E quando tudo restara sem esperança
No encanto da criação só restará do
Humano o homem feito danado cão
sábado, 20 de outubro de 2007
ODE A SÃO LUIS
by João Batista do Lago
Ó tu, leito-mãe dos Tupinambás
Reina dos mares do Sul, sois vós
Vitoriosa, oh! amada Upaon-açu
Carregas nome e cetro de realeza
N’alma saber e virtude de Atenas
No peito o brasão de viva Natureza
Ó tu, São Luís – Ilha dos Amores!
Amada de francos, lusos e neerlandeses
Sois vós o encanto de Arúspice
Profeta da vossa eterna glória e pureza:
- Vosso destino é conservar em si toda beleza
serás deste teu Orfeu a eterna Eurídice
Ó tu, São Luís – Jamaica brasileira
Sou-vos grato pela vida inteira pois
Sabei-vos de muitos ser uma só pessoa
Jamais vos deixaste vencer. Sois guerreira!
Ainda que vos queira estuprar o monstro da modernice
Haverá sempre um filho teu que não fugirá a luta
Ó tu, São Luís – Cidade dos Azulejos
Perdoai o jugo da desgraçada sorte (e)
Tomai por exemplo o Cristo da hora da morte
Perdoai os filhos que vos sangra em realejos
Todos serão defenestrados, enfim, para que
Possamos amar-vos entre ruas e curvas de azulejos
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
FIÉIS
FIÉIS
by João Batista do Lago
Vês
Quanta gente-nada
Assiste ao sermão da
Mumificação do ser?
Essa gente desesperada na
Eterna busca do não-sei-o-quê
Alimenta a dominação
Enriquecendo a igreja da alienação.
Vês
Quanta alma é contrita na
Infinita diasporia da
Crucificação do não-ser?
Essa alma regalada
Revelada em pecado
Cai de joelhos aos bocados e
Morre dia-a-dia na igreja que não crer.
Quanta gente se acredita
Desgraçada eterna ser
Busca em cada esquina… Em cada igreja
Um deus-qualquer para vencer
Presas fáceis são do falso saber
Cristos de toda alienação
Reféns fiéis da dominação
Proscritos e miseráveis continuarão.
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Crédito da Ilustração (foto): http://cidadesdobrasil.com.br/img_cn/IMG14-522-820.jpg
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O QUARTO
O QUARTO
(Para Marconi Caldas e Mário Lincoln)
by João Batista do Lago
No quarto resido com minha intimidade
Segredados na clausura da não-presença
Ouvimos as vozes da casa-fantasma (que)
Fala da vida enterrada em seu sepulcro
Há choro em cada gargalhada desesperada
Onde subjaz o Ser defenestrado do si
O quarto é o único lugar onde não desespero
Espaço sagrado onde converso com mortos-vivos
É de lá que muitas vezes atravesso a porta
Sabendo que não terei companhia da vida vazia
- alma que perambula pela casa –
Prenhe da solidão sarcófica da razão posta
É o quarto assim: a minha casa de paz e saúde
Local onde exerço minhas operações…
Onde cozinho os pratos mais perfeitos
Onde minh’alma e eu – e minha intimidade
Nos deitamos para o gozo mais supremo
Onde nas madrugadas chegamos ao extremo
Na sala do meu quarto recebo os ilustres
Conversamos por horas sem a linha do tempo
Tempo que enfeixa… que amarra as almas
No meu quarto o tempo não crucifica… não prende
Nem mesmo tem tempo de ter calma… nem pressa
Do meu quarto depois da travessia não se regressa
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Crédito da Ilustração(foto): http://users.design.ucla.edu/~badgerow/Db-room.jpg
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VAZIO
by João Batista do Lago
A casa está vazia
Há vazio em toda casa
As pessoas da casa: vazias!
Há vazio em toda casa
Que se esvazia de transeuntes
De olhares vazios
De palavras vazias
De pensares vazios
[…]
Na casa vazia apenas um sujeito: TV
O sujeito vê a casa vazia
As pessoas vazias
Olhares vazios
Pessoas vazias
Pensares vazios
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Crédito da Ilustração (foto em p&b): http://mentehumana.weblogger.terra.com.br/img/vazio.jpg
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domingo, 7 de outubro de 2007
PRIMAVERIS
PRIMAVERIS
Tuas coxas de primavera
Primaveris
Secretos segredos guardam
Da flor do sexo
Sequioso de
Embeber-te da
Mais pura e límpida água que
Brota como sumos da terra (da)
Mais pura terra que de mim há
Carregas em ti o
Centro da vida da primavera
Primaveris
Almas que se segredam em
Secretos exalares da
Flor mais pura de cheiro mais túmido
Essência que se me preparas na
Alcova do teu corpo
Sacrário exótico da (minha) eterna paixão
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Crédito da Ilustração (foto): http://www.agriturismovetriceto.it/images/immagini%20stagioni%20primavera.jpg
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