LAURA SANTOS: A pérola negra do Paraná
LAURA SANTOS foi uma peta paranaense. Nasceu em Curitiba em 30 de novembro de 1921. Não se sabe ao certo a data da sua morte.
Sobre LAURA SANTOS diz o poeta Tonicato Miranda: “sem complexos, inteligente, elemento positivo e querida nos ambientes onde convivia. Assídua presença nas sessões da Academia José de Alencar, quando e onde lia seus poemas e ouvia a leitura de poesias de outros poetas.
“Jamais queixara-se de discriminação ou de sua situação econômica difícil. Também jamais recorreu a outrem para dizer de suas dificuldades, que se presumia fossem muitas, dado que jamais conseguira publicar sua obra em vida. Segundo Helena Koloky, estrela maior da poesia paranaense, que conviveu com LAURA SANTOS, ‘em sua obra pode-se observar a inexistência de qualquer atitude complexada quanto à sua cor, porque sempre foi recebida em pé de igualdade com outros companheiros de arte e profissão’”.
Segundo consta no livro “Um Século de Poesia”, elaborado pelo Centro Paranaense Feminino de Cultura, LAURA SANTOS fora de “talento precoce desde a adolescência” quando “começou a compor”. Informa “Um Século de Poesia” que, LAURA SANTOS, compôs seu primeiro soneto – Aspiração – aos 13 anos de idade. “Lia muito em criança e o entusiasmo que lhe inspiravam os Sonetos de Olavo Bilac, revelou-lhe a sua vocação de poetisa”.
Depois de um brilhante curso secundário – diz a edição do Centro Paranaense Feminino de Cultura -, ingressou no curso técnico de química, que seguiu durante algum tempo.
Fora “preparadora de alunos, funcionária pública, especializada em enfermagem de guerra e saúde pública, jornalista e colaboradora assídua dos periódicos e revistas literárias, LAURA SANTOS, em meio às suas atividades múltiplas, não abandonou nunca a poesia” – informa o livro.
“Em 1937 venceu um concurso promovido pela Base Aérea, com um trabalho em prosa: História da Evolução da Aviação”. Fora “sócia fundadora da Academia José de Alencar” onde ocupara “a cadeira sob o patrocínio de Júlia da Costa”.
Seus três livros, ainda inéditos, aparecerão pela primeira vez no livro “Um Século de Poesia” e em separata [grifo nosso].
BIBLIOGRAFIA:
Sangue Tropical – poesia – 1953 – premiado pela Academia José de Alencar;
Poemas da Noite – poesia – 1953;
Desejo – poesia – 1953.
* * * * *
PRIMEIRO POEMA
Quando, envolta em penumbra,
A meditar me ponho,
Na doce exaltação deste exaltado sonho,
Na esplêndida mudez desta noite sem lume,
Principio a sentir em tudo o teu perfume.
Levemente ao redor do meu leito flutuas;
Sinto em meus seios nus as tuas faces nuas,
E o teu vulto sutil, subjetivamente,
Em insano prazer,
Em volúpia fremente,
Como serpe voraz, se enrola no meu ser.
E quando eu volto, de repente,
À fria realidade,
Compreendo que é a saudade
Que me fez de sentir,
Que me fez te gozar;
E, nesta noite fria,
Eu encontro somente
A triste solidão de minha alma vazia.
SEGUNDO POEMA
Dentro da noite agreste e sem luar
Ardente
E singular,
Quando um silêncio enorme envolve a natureza
E os vagalumes tremeluzem doidamente,
É que me sinto presa
Pelo polvo sensual do meu desejo...
Sinto o sabor de um beijo,
Que nos meus lábios vibra
E se estorce fremente,
A revolver
Fibra por fibra
Meu nevrótico ser.
Dentro da noite agreste e sem luar
De um torpor
Singular,
É que minha alma errática, procura
O teu amor
- falena seduzida
pela chama potente da Ilusão –
sem compreender,
no entanto,
não haver
retribuição de vida
ao seu fervente e desvairado encanto...
É uma sombra perdida
Dentro da noite escura
E no teu coração.
TERCEIRO POEMA
Na limpidez da noite pelo espaço
Há reflexos de aço,
Luminosos...
Dir-se-ia
Que a natureza envolta em véus luxuosos,
Em roupagem de seda,
Macia, se queda,
Toda em ânsia incontida,
Em uma longa espectativa indefinida...
A lua,
Inteiramente nua,
De mais alvor que os alcantis polares,
Vem, num desgarre soberano,
Pelos ares,
Linda como Frinéa emergindo do oceano.
E na minha alma
Incalma,
Incandescida,
A estorcer-se em desejos
De lúbrico furor,
Vibra o último som da música proibida...
E em meus lábios flameja o delírio dos beijos
Para imortalizar meu cântico de amor !
QUARTO POEMA
Noite agreste e sem lua,
Sem beleza,
Onda vaga de tristeza,
Opressamente no ar flutua.
De brando...
Pelas alturas pálidas estrelas.
Como lívidas velas,
Espalham sobre a terra o seu clarão sombrio
E se espalham no rio,
Que escorrega, se enleia e espuma, enraivecido,
Cumprindo o seu destino miserando
De ser incompreendido.
Então, neste momento
Tendo por teto o firmamento,
Ante o quadro que vejo
E a desvairar conduz
Em cismas vãs,
Merencória
E cheia de cansaço,
Vem-me o estranho desejo
De tornar-me incorpórea
E fundir-me nas lãs,
Finíssimas, de luz,
Que pairam difundidas pelo espaço...
QUINTO POEMA
Na noite erma e profunda
Soam vozes estranhas,
Poemas de amor que nascem das entranhas
Da terra.
E em meus olhos, que são portas escancaradas
Para a vida,
Fulge o desejo intenso,
Singular,
De pecar...
Agora,
Após ecoarem de vagar
As doze badaladas
Na velha torre,
Já não se escutam mais vozes estranhas...
Paira em tudo um silêncio incompreensível,
Esquisito,
Como se a alma da noite
Se houvesse diluído no infinito.
Só na minha alma ainda há a vida e a vibração,
Sem esperança,
De íntimo ardor,
Toda a ofegar em sonho
E em desejo a fremir;
A vibração e a vida de um amor,
Que, à semelhança
Do tinhorão tristonho,
Jamais há de florir.
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(In: Poemas da Noite, 1953 – Do livro “Um Século de Poesia”, 1959, pp. 397-8 – Imprensa Oficial do Estado, Curitiba, Paraná, Brasil.)
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