CARNIFICENTE
© DE João Batista do Lago
Vem!
Rasga meu peito sem medo
Toma em tuas mãos meu coração (e)
Bebe todo o sangue...
Sangue que sangra como rio
Sangue que dá vida ao corpo frio (e)
Que se faz larva do fogo da paixão
Deixa-o correr por entre veias
Vazias.
Deixa-o lavar o esgoto
Deixa-o penetrar as profundezas
Do teu corpo-mar
Deixa-o, enfim, embriagar...
Até – (quem sabe!?) – que o doce tédio dos teus lábios
Alcance a sarjeta do verdugo (e)
Beije silenciosamente a terra que te é pó (mas)
Que nunca se dera como palavra – nem verbo!
E quando sóbrio te encontrares
Com o gosto do sangue à boca
Verás que tens por alimento
A desdita de ser o que nunca fostes
Sendo o que jamais serás
Na eternidade dos tempos – e das almas sem espírito:
Deus maldito que professo fogo
Planta fome (e)
Mergulha no mar de lama
Onde almas sem ser dançam a valsa apocalíptica num
Balé de águas que se vão e que se vêem
Sem jamais serem passageiras da mesma viagem
Nenhum comentário:
Postar um comentário