DIÁLOGO DE ATHENAS
(Réquiem a São Luis)
Por João Batista do Lago
- Olá, poeta.
Há quanto tempo não nos víamos!
- Que olhares,
Que visões têm da ilha?
- Carrego ainda olhares de Athenas,
Visões de um tempo de querências.
- Ainda bem que podes tê-las,
Pois cá não mais a temos... Tudo é demência!
- Da arte que conhecestes pouca coisa restou.
Hoje há muita miséria, violência e dor,
os jardins da cidade não têm mais flores,
as rosas sumiram, os jasmins secaram.
Sobraram as dores dos desamores
e a cidade poeta virou bandida.
Hoje as almas são dormentes ambulantes
De um bonde carregado de miseráveis,
de miseráveis criaturas sem espaço,
sem rosto, sem fé, vermes sem sacristia,
carentes e tolos viventes de vida sem vida,
sem qualquer guarida de telhados e azulejos,
sem histórias, sem eira nem beira,
sem mar e sem praias, sem sal e sem terra.
Ó, poeta,
as gentes dessa cidade já não têm sol
e nem mesmo a lua flutua em suas almas
para lhes sincronizar a sinfonia de Dionísio,
pois elas perderam o riso da harmonia
e se tornaram almas mortas de agonias.
A cidade, poeta, hoje é “apenas”
alma que pena suas dores e seus horrores,
dissimulada de Athenas sem cantores,
sem poetas, sem poesia,
ilhada no besteirol da vaidade comum
pensada, apenas, na vermelha lama do consumo.
É assim, hoje, a tua ilha: cercada de grilhões
que aprisionam Prometeus nas rochas da ignomínia,
que favorecem os tufões da incompetência
que se sentam à mesa dos poderosos
e diante de um lauto manjar
exigem dos poetas a continência,
exigem toda reverência
para lhes legitimar toda incompetência.
Poeta... Perdemos os telhados.
Todos os telhados perdemos.
Perdemos as sacadas.
Todas as sacadas perdemos.
Perdemos nossas ruas.
Todas as ruas perdemos.
Perdemos nossas fontes.
Todas as fontes perdemos.
Não temos telhados,
nem as sacadas temos.
Não temos ruas,
nem as fontes temos.
Estamos sós... Ilhados estamos.
Perdidos – todos – somos, poeta.
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5 comentários:
Meu caro Poeta, foi com enorme prazer que recebi seu Poema DIÁLOGO DE ATHENAS (Réquiem a São Luis.
Se não se importar com a ousadia, vou publicá-lo no meu Blogue.
Um abraço ;)
Minha poetisa Otília Martel.
De maneira alguma me importarei, pois sei ele estará muito bem postado.
Amo-te.
Beijos.
Já lá está...
Bj ;))
Uma surpresa e um prazer encontrar o seu espaço.
Um abraço do lado de cá do mar.
Obrigado, Ana.
Esteja sempre a vontade. A porta para si sempre estará aberta. Entre, sente para tomarmos um café e batermos um bom papo sobre a poesia, entre outros assuntos.
Carinhosamente
João Batista do Lago
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