PASSAGEIRO DO EU
Por João Batista do Lago
Sou-me – de mim -,
apenas eu – e eu mesmo -,
passageiro da própria passagem.
Espelhado em águas de mares
reclusos, como nau perdida em alto mar,
tornaram-me (re) excluso de portos seguros.
E assim, de posse da minha lepra e da minha loucura,
erguido como representação de anti-poder,
jamais fui construído sujeito mensurável para ser calculado.
Fizeram de mim um vivo morto – ou morto vivo! -
quando me beijou a face, o patrão, no horto das oliveiras,
quando me excluíram e me internaram no palácio dos leprosos.
Venturosos da nau dos loucos, de poderes moucos,
estabeleceram no campo das açucenas
quermesses de dominações sem quaisquer penas.
E lá recluso, e excluso, de mim e do mundo,
açoitado pelo poder como qualquer vagabundo
continuo louco, recluso e excluso, passageiro da própria passagem.
A nau – este mundo -, leprosário da minh’alma
reflete em águas profundas o impuro narciso do poder
num vai-e-vem de ondas mortais de loucos e leprosos.
E agora, já definitivamente condenados, todos – e eu -,
passageiro da própria passagem já não encontro portas de saída
para enfrentar o meu fetiche... Para deitar minha lepra e minha loucura!
segunda-feira, 28 de maio de 2007
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Um comentário:
"...E lá recluso, e excluso, de mim e do mundo,
açoitado pelo poder como qualquer vagabundo
continuo louco, recluso e excluso, passageiro da própria passagem."
e não somos todos reclusos de nós próprios?
Gostei muito desta viagem ao interior do teu "eu"...
Beijinho e bom domingo ;)
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