REVELAÇÃO
© DE João Batista do Lago
Estou ao seu lado
Tentando uma palavra-mãe
Na mudez do corpo-ovário
Que me fizera
Descendente de Deus
Ou do macaco.
Digo palavras-coisa
Feito máquinas des-humanas
No silêncio do espaço
Entre outras máquinas
Que presumem
Sustentar uma vida.
A máquina não fala
O corpo se cala
E eu me esforço na fala
Brigando com tubos
Que entubam a alma calada
Da mulher que me pariu.
E o homem-deus...
Ou o homem-macaco
Repete baixinho
Que ela precisa vencer
Essa agonia monológica
De sua noite escura.
Sinto então que as trevas
Não se fazem presentes nela
Mas em mim que sou o gerado
Prestes a bezerro desgarrado
Das tetas que me sustentam
Com o único leito da vida.
Seria possível morrer-me
Para que dela fosse possível vida?
Não! Infelizmente não há saída...
Apenas a impotência dum ser
Que espera vencer o medo de perdê-la
Para sempre e toda a eternidade
Nada mais justifica minha presença
Se nela há toda ausência dela.
Estou perdido no labirinto das teias
Tentando deste instante a resposta
Para entender o sangue das veias
Que se esvai e se lava no rim artificial
E retorna ao seu leito normal
Como possível alma matricial.
Ó, como é possível morrer assim?
Esses tais mistérios da vida
Que nada revelam em cada fim
Continuam o desfilar do nada
Na versão suprema de cada ser
Que retornará para a reciclagem.
Ainda assim preferiria a mim
Fosse primeiro que ela...
Minha passagem é tão inútil
Que não me permite tomar este trem
– nele não há poltrona para João-ninguém –
De eternos viajantes da Virtude e do Bem.
Mas, se fores mesmo agora
Terás de mim única promessa:
Tua presença será eterna
E a quantos possíveis for aqui na terra
Dir-se-á de toda tua grandeza
Numa só palavra de revelação: MÃE.
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